Na vida tenho tido a felicidade de fazer muitas e boas amizades, na escola, na universidade, no trabalho ou na política. O Vasco Mina foi o melhor amigo que fiz no PSD. O Vasco foi e será sempre para mim e, para muitos dos que tiveram a felicidade de com ele privar, um exemplo e uma referência de vida, de fé, de participação comunitária e na defesa de causas.
Partiu aos 59 anos, depois de o seu corpo ter cedido à reincidência de uma leucemia e depois de nos últimos 18 anos ter lutado contra um linfoma, seguido de uma leucemia.
Como gestor, dedicou os últimos 25 anos da sua vida à Sonae, empresa que, diga-se, foi também ela exemplar na forma como sempre soube compreender e gerir a relação profissional, sabendo acolher e proporcionar novas oportunidades ao Vasco, após cada uma das suas prolongadas ausências para tratamentos.
Na sua vida, o Vasco integrou e participou activamente em vários movimentos e organizações, nomeadamente a Associação de Estudantes, GEOTA, CVX, CUPAV, Leigos para o Desenvolvimento, Equipas de Casais de Nossa Senhora, Grupo ao 3º Dia, Federação Portuguesa pela Vida, onde era membro da Mesa Assembleia Geral e Comissão Nacional de Justiça e Paz, onde era Vogal.
No caso dos Leigos para o Desenvolvimento, foi missionário em São Tomé e Príncipe, integrado nas primeiras missões dos Leigos em 1988/89, tendo sido um dos seus fundadores, com o Padre António Vaz Pinto e, um dos seus primeiros Anciâos. Foi promotor, organizador e guia de várias visitas pelo património e história de Lisboa, enquadradas no programa “Caminhos Missionários de Lisboa”, cujas receitas revertem integralmente para os Leigos. Atualmente era Presidente da Mesa da Assembleia Geral.
Foi desde o seu início voluntário no Banco Alimentar. Foi também activista das Caminhadas pela Vida.
Iniciou-se na política ainda jovem, integrando a JSD em 1985 e posteriormente o PSD. Foi no PSD que tive a felicidade de conhecer o Vasco, não sei precisar em que ano, mas há mais de 20 anos, no PSD da Lapa, freguesia onde ambos vivíamos e na extinta Secção D de Lisboa. Travámos muitas batalhas partidárias e políticas em Lisboa e a nível nacional. Defendemos valores e causas que partilhámos. Católico praticante e Social-Democrata convicto, o Vasco desfiliou-se do PSD em 2019, na sequência da viabilização da lei das “barrigas de aluguer”, com o voto favorável de vários deputados do PSD, mas permaneceu Social-Democrata até ao último dia da sua vida, mais do que muitos dos que enchem a boca com a social-democracia, dentro e fora do PSD. Ainda na política, integrou a tertúlia "Nova Vaga" e o Gabinete de Estudos do PSD.
Na política e em particular no PSD, tantas vezes se fala da necessidade de atrair para a política os chamados “os homens bons”. O Vasco Mina era esse Homem bom, em todas as dimensões da sua vida familiar, social, profissional, solidária e política.
Mas também com os amigos, que valorizava, inspirava e “alimentava”. Como, por exemplo, com o encontro que todos os anos realizava em setembro, em Cem Soldos, terra que adoptou como sua pelo casamento com a Rosarinho. Um encontro que tradicionalmente incluia três momentos: lúdico, cultural e social, em que para o social cada convidado contribuia com os comes e bebes que podia.
Mas, também, com as suas pequenas reflexões que todos os anos partilhava com os seus amigos e familiares por ocasião do Natal. Mensagens sempre inspiradoras, fundadas na verdadeira simbologia e valores do Natal, como a de 2010:
“Jesus partiu do Pai para Chegar junto de nós. Partiu (ou melhor, regressou) depois para o Pai e junto d’Ele aguarda a nossa chegada.
Sinto que estou numa estação de comboios. À espera que Alguém chegue. Cheio de vontade daquele abraço fraterno e efusivo. Estou também a acompanhar a partida do amigo que se despede. Vai com ele a alegria de uma vida que partilhámos e ficam as lágrimas a percorrerem-me a face. Estou nesta estação à espera de quem chega e a despedir-me de quem parte. A ambos aceno com as minhas mãos e ambos fazem parte da minha vida. Até que alguém, um dia, me irá acenar com as suas mãos a lembrar o aceno com que fui recebido.
O Natal é esta beleza da vida que celebramos como Chegada mas sempre com o sentido profundo de um Caminho que se inicia e que tem como destino Aquele de Quem recebemos o Dom da Vida.”
O Vasco foi um exemplo e uma referência de vida, mas também o foi no modo como viveu a sua doença e se preparou para morrer cristãmente. Na memória de todos os presentes, ficará a missa de ação de graças que mandou celebrar e que se realizou no passado dia 18 de maio, na igreja do Colégio Pio XII, repleta de familiares e amigos. Como diz o Padre Pedro Vaz Patto, na nota da Comissão Nacional Justiça e Paz intitulada “Vasco Mina, um lição de vida”: “Quando poderia ser tentado (como qualquer um de nós no seu lugar) a revoltar-se pela sua morte precoce e por parecer inútil toda a sua árdua luta conta a doença, esqueceu tudo isso e não fez senão agradecer a Deus pela sua vida. Eu nunca tinha visto uma atitude como esta e nunca mais a esquecerei. O Vasco Mina ensinou-nos, pois, a morrer e essa é para todos uma grande lição de vida.”
No domingo, dia 3 de julho, o meu amigo Vasco chegou à última estação de comboios da sua viagem entre nós, mas a sua alma perdurará entre todos os que tiveram o privilégio de o conhecer e com ele privar. Como ele disse na última mensagem que dirigiu aos seus amigos e familiares: “A Vida é um Mistério. Sei que nos encontraremos no Céu.”
Um abraço fraterno para a família Mina, Rosarinho, Leonor, Maria e Gonçalo.