Opinião

Um governo de combate

António Costa senta no Conselho de Ministros de uma penada todos os que mais ambicionam ser peças-chave do futuro do PS. Prepara o futuro como nenhum outro. Ao mesmo tempo que se rodeia dos melhores, mostra que está aberto à sociedade e não fechado sobre o Partido Socialista

Um governo de combate, em economia de guerra. Foi o meu primeiro pensamento, as minhas primeiras palavras, minutos depois de ver a lista completa de ministros. A concentração dos ministérios chave para a recuperação económica e execução das reformas reforça esta ideia

António Costa senta no Conselho de Ministros de uma penada todos os que mais ambicionam ser peças-chave do futuro do PS. Prepara o futuro como nenhum outro, ao mesmo tempo que se rodeia dos melhores nesta fase-chave do país. O seu lugar na história está mais do que alcançado, o homem que na Europa acabou com a TINA, o gestor exemplar da pandemia. Agora, é tempo de fazer mais História no presente, e conduzir Portugal por nova tormenta.

A força de Mariana Vieira da Silva é cada vez maior. A inteligência política e lealdade com António Costa são recompensadas, e muito bem. Consolida-se como número dois (Augusto Santos Silva cumpriu dois ciclos, mas não podia reformar-se, que os tempos não estão para isso). E pelo caminho influencia de um modo brutal a constituição da nova equipa. Até os que parecia que estavam destinados a dizer que não eternamente ao chamamento, desta vez disseram presente.

Medina é aposta segura. Já tinha sido o “Ministro das Finanças” de António Costa na Câmara de Lisboa e apresentou resultados exemplares, na altura com a colaboração de um dos mais discretos e competentes ministros que agora cessaram funções, Nelson de Souza (o seu legado, agora que termina anos de dedicação, com o primeiro PRR da Europa e o Acordo de Parceira do Portugal 2030). Medina terá de ajudar a economia a funcionar, ao mesmo tempo que mantém a estabilidade das finanças públicas. No novo ambiente de política monetária, isso será decisivo.

A estabilização da economia nacional e a recuperação estrutural estará nas mãos de dois dos melhores do PS desta geração, Mariana Vieira da Silva e Fernando Medina. Que desafio! A gestão do Conselho de Ministros será difícil, mais do que se pode esperar. Todos querem condições para executar um programa que não está constrangido por maiorias parlamentares, mas há uma dívida pública que tem de diminuir, à medida que o crescimento económico tem de se libertar, pois só assim ela reduzirá de modo permanente.

O nó górdio é que o crescimento económico, que poderá ser muito estimulado pelos fundos estruturais e da bazuca, só pode ser desatado com uma gestão muito inteligente das regras de contratação pública europeias, de que Bruxelas não se desvia um milímetro. E os investimentos assim demoram. Sei do que falo.

Pedro Nuno Santos, também por isso, aceita continuar numa pasta onde os resultados só aparecem ao fim de duas legislaturas. Pode assim mostrar resultados do Ferrovia 2020 ou lançar obras do Programa Nacional de Investimentos. Faz bem. E ganha tempo para descolar de imagens pré-concebidas, e reaproximar o verbo e a praxis do país que sucessivamente rejeitou radicalismos de esquerda. Tem muita inteligência política, e está muito bem rodeado, esse será certamente o seu caminho nos próximos quatro anos.

Ana Catarina Mendes vê reconhecida a lealdade total, completando o seu percurso político com um cargo ministerial de elevada relevância. António Costa uma vez mais a abrir caminhos e a reforçar a capacidade de combate político. Numa legislatura onde, apesar da maioria absoluta, será necessário que o PS olhe muito para a Assembleia da República, este é um voto de confiança importante.

Depois de tantos anos de governação, Pedro Adão e Silva e Elvira Fortunato são as maiores surpresas pela positiva na capacidade de recrutamento junto da sociedade civil. Helena Carreiras, Catarina Sarmento e Castro, Ana Abrunhosa... António Costa mostra que esta maioria está aberta à sociedade e não fechada sobre o partido. Muito importante.

Muita gente de qualidade e confiança política - também com muito futuro, continua ou é promovida, fruto de trabalho exemplar. A paridade faz História. Na Defesa abre mentalidades.

Duarte Cordeiro tem feito bem tudo o que lhe foi pedido na sua vida política, continua a construir futuro no PS e na governação do país. João Costa tem tudo para ser um enorme Ministro da Educação, pelo que sabe e pela confiança que construiu no setor. Tem de ganhar a batalha com as Finanças que a pandemia permitiu a Marta Temido ganhar de forma impressionante.

Um grande arranque para um novo ciclo político. António Costa é um político de combate, atingiu a excelência como Primeiro-Ministro na gestão da pandemia. Terá de imprimir dinâmica e energia em Portugal e na frente europeia, que assume diretamente (já o fazia na prática), para uma resposta à altura a outro enorme desafio para Portugal e para a Europa. Quatro anos a recuperar da economia de guerra serão obra. Reuniu uma equipa de combate para o fazer.