Exclusivo

Opinião

Estamos amordaçados ou sonâmbulos?

O título é uma gralha; ou talvez seja um ato falhado. Queria escrever desconfinar e saiu-me desconfiar. E explico porquê: os números de internamentos, de doentes em UCI e de infetados descem a pique. Mas o índice de transmissibilidade não deixa de aumentar desde meados de fevereiro. No meio disto tudo, o Governo diz que pode haver alívio das restrições antes da Páscoa (2 a 4 de abril). Rejubilamos, porque estamos fartos deste confinamento e destas restrições. Mas... e este mas é uma adversativa considerável: se a transmissibilidade sobe, podemos ter confiança que não vem por aí outra onda, vaga ou o que lhe queiram chamar? Sublinho, como sempre, que não percebo nada disto, mas julgo perceber sinais e símbolos; políticas e desejos; políticas baseadas nos desejos ou nos factos; política para ser popular ou para fazer o que deve ser feito. Por isto tudo, antes de desconfinar, tenho por hábito desconfiar. Nada de científico, caso contrário tinham de levar-me às reuniões do Infarmed. É apenas receio, daquele que está consubstanciado em ditos populares como “Quem tudo quer tudo perde” ou “Gato escaldado de água fria tem medo”.