Opinião

As Causas. Nem tudo é mau

A incompetência no aeroporto e nos erros da luta contra a pandemia custam muito dinheiro e seriam evitáveis.

Vamos pagar caro: não somos crianças tontas, mas infelizmente somos muito resignados.

Mas em Lisboa Medina e Moedas a lutar pela Câmara é um sinal formidável de que nem tudo é mau.

AEROPORTO - A INCOMPETÊNCIA CUSTA MUITO DINHEIRO

A decisão da ANAC sobre o Aeroporto previsto para o Montijo vai justificar – infelizmente para Portugal – que isto tudo seja estudado como um sinal de incompetência do Estado Português.

Uma rápida ida à internet permite saber que esta risco – decorrente de uma lei que dá poder de veto a autarquias para investimentos de âmbito nacional – sempre existiu e para ele as autoridades políticas nacionais nenhuma solução procuraram.

Os custos e os atrasos são inadmissíveis, mas como sempre nada vai acontecer que não ser pagarmos todos o que poderia ter sido evitado por alguns vai ser estudado como

MEDINA E MOEDAS: OS FILHOS DOS COMUNISTAS

A primeira reação que me surge é constatar a curiosa circunstância de ambos serem filhos de comunistas, como aliás António Costa (e desse modo se perceber como o PCP não foi capaz de evoluir como e com as “classes populares” em que diz estar embutido).

Mas para mim, e para muitos, o importante é que a antecipação de um duelo político entre Medina e Moedas dá-me esperança de que a Política possa voltar a ser como precisamos.

Estou contente, pelas várias qualidades que definem os dois políticos: são honestos e decentes, são dedicados ao serviço público (e Carlos Moedas terá deixado de lado a sua carreira na Gulbenkian), são inteligentes e experientes. E – o que é mais precioso porque mais raro nos tempos que correm – estou feliz porque ambos são genuinamente moderados.

Outros bons exemplos poderão surgir, como é o caso de Pedro Machado (o Presidente da Região de Turismo do Centro desde 2013 e Doutorado em Turismo para a Figueira Foz) no PSD e espero que outros em mais partidos.

Convirá saber – esperemos pelos programas – se Medina e Moedas estão disponíveis para as reformas urgentes e essenciais em Lisboa.

Um deles vai perder. E, quem sabe, podem perder os dois, se o vencedor ficar refém de radicalismos que vendam caro o apoio.

Tal como está a política, o que perder provavelmente vai sair do palco da política ao nível mais elevado e ter essa sua carreira estragada. É inconcebível ser assim, mas muito gente quer que assim seja: ao BE e aos setores mais radicais e da esquerda do PS, não desagradaria a derrota de Medina, mas este cometerá um erro se mudar de natureza na ilusão de que os seduz. E Moedas não deve também ceder aos outros radicais do Chega que, elegendo um ou dois vereadores, poderão derrotá-lo, e que não querem o seu sucesso.

Sendo Moedas um homem que politicamente deve muito a Passos Coelho, o convite de Rio é um inteligente e hábil movimento (provavelmente desenhado por Nuno Morais

Sarmento) na luta entre estes dois: se Moedas ganhar, ganha Rio; mas se perder, perde Passos Coelho.

Essa parece ser a agenda oculta do atual líder do PSD, para que também serviria Poiares Maduro. Claro que uma vitória de Carlos Moedas não reproduzida por muitos outros lados, será uma vitória pessoal dele, como foi a de Assunção Cristas…

QUANDO OS FACTOS CONFIRMAM OS ARGUMENTOS

A insistência naquilo a que se vem chamando “dever geral de recolhimento domiciliário”, ou “confinamento”, não deixa de me surpreender. E agora mais, quando surgem dados objetivos e sondagens.

Vejamos então dois gráficos. O primeiro é a medição efetiva de deslocações semanais da população, que é feita pelo investigador Nuno Santos, da consultora PSE.

Segundo Nuno Santos, antes da pandemia cerca de 25% dos portugueses basicamente já não saíam de casa, pelo que o índice 100 corresponde à média (75%) dos que se mexeram de 1 de janeiro a 14 de março de 2020.

Em resumo, na semana 3 de 2021 não estiveram “confinados” 73% dos portugueses que antes da pandemia circulavam (ou seja 55% do total), o valor mínimo de mobilidade foi na semana 4 – 47% - em que começou o encerramento das escolas – mas logo os confinados foram reduzindo e na semana 8 voltámos aos números da semana 3, que já foi posterior às medidas radicais causadas pelo pânico (tomadas pelo Decreto n.º 3-A/2021 de 14 de janeiro).

O dia 26 de fevereiro, sexta-feira, foi aquele em que mais portugueses circularam em 2021, 6 milhões, afirma a PSE. Quem não se confina são mais homens que mulheres, mais jovens que idosos e mais grupos C e D (classes médias e baixa).

Ou seja, nada mudou quanto a confinamento com as medidas mais radicais. E o que mudou com o Decreto n.º 3-C/2021 de 22 de janeiro, durou muito pouco: desde então (encerramento das escolas) estão a sair mais 1 milhão de pessoas em média à rua (e ao sábado mais 3 milhões).

Assumamos que isso só quer dizer que mais pessoas deram um pequeno passeio higiénico de uns minutos, uma vez por semana, e que estes dados não significam por isso que o país não tivesse estado confinado nas últimas seis semanas.

Mas vejamos então o outro gráfico, que é o resultado de uma sondagem da Aximage (aos portugueses com mais de 18 anos) que foi divulgada na passada semana e de que o trabalho de campo foi realizado entre 17 e 20 de fevereiro, ou seja na semana 8 do primeiro gráfico:

A sondagem revela que 51% dos portugueses com mais de 18 anos estavam a trabalhar, mais de metade deles (27% do total) no local habitual, sendo que 24% do total dos portugueses estavam em teletrabalho.

É verdade que a sondagem (e agradeço à Aximage que me tenha generosamente permitido acesso aos dados que permitem uma análise mais fina)

- Subvaloriza os pensionistas e reformados, que são 43% dos maiores de 18 anos e não 29% como resulta do estudo (mais muitos deles, como é o meu caso, continuam a trabalhar e responderam por certo ao inquérito dizendo onde estavam a trabalhar, como eu responderia) e

- Sobrevaloriza os desempregados que são 16% dos que respondem e serão 5% na realidade (mas talvez quem está em layoff se coloque nessa categoria e muitos outros serão reformados que trabalhavam e perderam o emprego).

Mas o relevante são os 27% que, em pleno e rigoroso confinamento, trabalham no local habitual. E são 2 milhões e 200 mil portugueses.

OS PORTUGUESES NÃO SÃO CRIANÇAS TONTAS

O que tudo isto revela é que o confinamento é em grande medida uma farsa, pois a maioria dos portugueses continua a passear.

E mais de 2 milhões continuam a trabalhar fora de casa e quase todos (veja-se a construção, que está em verdadeiro “boom”, e as indústrias de exportação de bens) em grupos de certa dimensão.

Ora, apesar disso, todos os indicadores estão a melhorar muito.

Ou seja, o Presidente da República, o Governo e os especialistas radicais, tratam os portugueses como crianças, muitos de nós não ligamos ou não temos como ligar ao que eles dizem, mas somos adultos cautelosos e prudentes.

Como tenho afirmado, o Estado de Emergência e o confinamento é uma bomba de neutrões lançada sobre o País, em vez de se tomarem medidas mais finas e dirigidas para onde devem ser feitas, se testar e rastrear o que dá mais trabalho e exige esforço competente.

O caso do famoso APP “Stayaway”, um exemplo de escola do fracasso do Ministério da Saúde a fazer o rastreio dos contágios.

Se não nos tratassem todos como crianças indignas de terem liberdade, a fadiga e a revolta (que ao modo português se exprime pela desobediência…) não seriam tão grandes e o cumprimento voluntário e livre das regras venceria.

O caso das escolas é levar ao absurdo a tontaria: o encerramento das escolas não reduziu as deslocações quase nada (e agora já nada), ninguém definiu como fazer com os filhos dos mais de 2 milhões que não estão em teletrabalho, e é evidente que o surto do inverno não foi causado pelas e nas escolas.

Por isso nem me passa pela cabeça que a abertura das escolas (crianças até aos 12 anos) não comece já em 15 de março. E que o mesmo não aconteça com livrarias, outro pequeno e médio comércio, restaurantes ao ar livre. Para não falar dos bancos de jardim!

ELOGIO

Desta vez é para os que me ajudam, corrigindo os meus erros involuntários. Na passada semana reproduzi um vídeo como se fosse do “rapper” Pablo Hasél, que foi detido e por causa de quem bandos anarquistas e de extrema-esquerda destruíram e pilharam em Barcelona o que conseguiram.

Afinal o vídeo era de outro “rapper”, Valtonyc, que também foi condenado pelos tribunais criminais e escapou para a Bélgica.

Hásel, esse, foi condenado por defender, entre outras “bondades”, que se deve abrir à machadada a cabeça de José Bono (um líder socialista), que devem fazer explodir o carro do líder do governo basco (socialista, que foi líder do governo regional de Castilla la Mancha e Ministro da Defesa), que sejam condenadas à morte as crianças que são filhas do Rei de Espanha, para além de ataques violentos à Polícia e à monarquia.

Mas o vídeo não era dele…

E elogio também a quem corrigiu outro erro: o Presidente da República que retirou o caráter “secreto” ao Relatório das Sevícias na véspera de eu aqui lhe perguntar quando o faria, corrigindo o erro de um dos seus antecessores.

LER É O MELHOR REMÉDIO

Desta vez duas sugestões: “O Apelo da Tribo”, do Prémio Nobel da Literatura, Mário Vargas Llosa. Ele começou no comunismo cubano e cedo se apercebeu do que significava, e veio a tornar-se num expoente do pensamento democrático-liberal. São 7 ensaios sobre quem o inspirou no seu percurso: Adam Smith, Ortega y Gasset, Hayek, Popper, Aron, Isaiah Berlin, Revel.

E a outra leitura é uma investigação de Liliana Valente, no Expresso, sobre a forma como António Costa “y sus muchachos” enfrentaram a pandemia, intitulado “Um Governo em Aflição”.

O texto, de 4 longas páginas, está muito bem escrito e revela factos não conhecidos. Claro que no final quase me vieram as lágrimas aos olhos com pena, admiração, compreensão e até ternura pelos nossos líderes socialistas.

Mas sem isso, se calhar, não teriam tantos falado…

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

Desta vez é para o Chega e o Bloco de Esquerda. Li há dias que quase todos os emigrantes que desembarcaram no Algarve, vindos de Marrocos, se escapuliram em direção a outros países europeus

Para o Chega: não será a altura de reconhecerem que não há problemas com emigrantes em Portugal?

Para o Bloco de Esquerda: não será a altura de reconhecerem que os mais desfavorecidos preferem países mais capitalistas e mais liberais?

E escusam de reagir com fúria: perguntar não ofende…

A LOUCURA MANSA

Susana Peralta é uma “outlier” na Faculdade de Economia e de Gestão da Universidade Nova, uma socialista bastante radical numa escola que ganhou créditos internacionais por uma orientação muito científica e liberal.

Isso talvez explique um radicalismo crescente de alguém que – quando se liberta disso – escreve por vezes textos sensatos.

Mas há dias entrou pela zona de loucura mansa: num País em que os impostos diretos são dos mais elevados do Mundo, propõe que (sic) “os burgueses em teletrabalho” paguem um imposto adicional, uma espécie de “sin tax” (como se estivessem a pecar) pelo encerramento de que o Estado não quer que se libertem, pois lhes impõe o que não desejam.

A proposta é tão tonta que até a mim (a quem já quase nada me admira) me surpreende.