Opinião

Indecisão à esquerda

Entre os que afirmam ter intenção de voto no PSD, 72% já decidiram votar em Marcelo, 15% ainda não sabem e 1% diz que irá votar em André Ventura

Se as eleições presidenciais fossem hoje, Marcelo ganharia com uma larga maioria à primeira volta, Ana Gomes ficaria num segundo lugar folgado e André Ventura falharia os objetivos a que se propôs — forçar uma segunda volta e ficar à frente da militante socialista. As presidenciais, no entanto, são só daqui a três meses. Vários indicadores nesta sondagem sugerem que há margem para mudanças até janeiro.

Durante o trabalho de campo desta sondagem, nem o PSD nem o PS tinham ainda apoiado formalmente qualquer candidato. Todavia, são os eleitores so­cialistas que estão mais divididos. Entre aqueles que afirmam ter intenção de voto no PS, 55% indicam que votariam em Marcelo, 15% em Ana Gomes, havendo ainda 19% que não sabem em quem vão votar.

Por isso, as declarações de Augusto Santos Silva esta semana, indicando que Ana Gomes não seria uma boa candidata para o PS, e a resposta de Pedro Nuno Santos, defendendo a candidata e pedindo que seja o partido a pronunciar-se sobre quem deve apoiar, foram importantes. Mesmo que o PS decida não apoiar formalmente ninguém, estes líderes sinalizam correntes que, nas próximas semanas, podem influenciar escolhas eleitorais à esquerda. Além desta indefinição no campo do PS, também há sinais de que o eleitorado do Bloco hesita em renovar o apoio a Marisa Matias: um quarto dos que declaram intenção de voto no BE não sabem em quem vão votar nas presidenciais. A amostra do BE é, no entanto, bastante reduzida, sugerindo alguma cautela na leitura.

Entre os que afirmam ter intenção de voto no PSD, 72% já decidiram votar em Marcelo, 15% ainda não sabem e 1% diz que irá votar em André Ventura

À direita não se vislumbra a mesma indefinição. Entre os que afirmam ter intenção de voto no PSD, 72% já decidiram votar em Marcelo, 15% ainda não sabem o que farão e apenas 1% afirma que irá votar em André Ventura. Para já, a aposta de André Ventura em dividir o eleitorado de direita parece não estar a surtir grande efeito. Acresce que as críticas que vemos a Marcelo em certos sectores do PSD, pelo seu contínuo apoio à ‘geringonça’, não parecem encontrar eco no eleitorado deste partido.

Vemos, por isso, que há mais eleitores indecisos à esquerda do que à direita, o que é natural, pelo menos por três razões: o Presidente (re)candidato é de direita; é muito popular; e o principal partido da esquerda, o PS, tem dado sinais algo contraditórios sobre em que candidato devem votar os seus simpatizantes. Claro que os eleitores são livres de votar em quem quiserem, mas esperam que os partidos indiquem preferências para tomar uma decisão. São os partidos que ancoram as decisões dos votantes.