Opinião

Lisboa depois de Fernando Medina

João Pedro Costa*

Vive anestesiada, com várias emergências, sob um orçamento excedentário de 1,5 mil milhões de Euros, o maior de sempre. Vive uma gestão de vistas curtas, dirigida para a notícia do dia seguinte, em que a festa é prioridade e o anúncio substitui a obra: são as 7 mil casas de renda acessível que Fernando Medina repete desde 2016, embora nenhuma exista; ou a nova Feira Popular, virtual desde 2015 e não desejada em Carnide. Delira-se com a capital disto e daquilo, pretexto de anúncios para 2030 e de ações emblemáticas, para fazer mais notícias. É o paradigma socialista de que o marketing político serve para ir flutuando, deixando para trás a resolução estrutural dos problemas. Só que a cidade não espera.

Lisboa vive uma emergência na habitação. Perdeu 300 mil habitantes em 40 anos e caminha para uma cidade dual, composta por bairros municipais e de rendimentos elevados. Uma cidade sem classe média, que não acompanha os preços de venda ou arrendamento e está condenada a ir morar mais longe. A resposta de Fernando Medina foi o anúncio das 7 mil casas, que não existem, a que se juntam agora os edifícios do Fundo de Pensões da Segurança Social, numa tentativa desesperada de ter alguma casa para mostrar nas próximas eleições. Porém, todo este esforço de investimento público, em período de vacas gordas, não é mais do que um paliativo para a dimensão do problema.

Mas existe alternativa. O leitor tem direito a uma casa em Lisboa pelo esforço do seu trabalho, sem ter de pedir ao Estado e de se sujeitar a sorteios com rácios de 900 para 1, tipo ex-RDA. Lisboa não pode esperar que o Estado dê casa a todos, porque simplesmente não vai dar. Deve ter uma política arrojada, liberta dos espartilhos ideológicos socialistas e aliada à economia real, apostando na regulação do mercado para promover uma baixa de preços, em dois mandatos, através de uma densificação habitacional do PDM de Lisboa, acompanhada pela oferta de solos públicos para construção, dirigida ao pequeno e médio investidor.

Lisboa vive uma emergência ambiental. Mais uma vez, devido à visão simplista de Fernando Medina: a resposta ambiental da cidade não é tanto melhor quanto mais áreas verdes e menos moradores tiver. Numa visão sustentável, Lisboa deve ser mais densa. Porque só assim é viável uma rede de metropolitano abrangente e com boa cadência de resposta, e só assim as pessoas deixam o carro em casa. Em várias zonas da sua coroa, Lisboa precisa de ser uma cidade mais compacta e menos dispersa, precisa de áreas verdes mais utilizadas e não vazias.

Lisboa vive uma emergência na mobilidade. Mais ambiente significa menos emissões com melhor mobilidade, o oposto de mais engarrafamentos, como temos hoje no Saldanha e Avenida da Liberdade, ou se antecipa na Praça de Espanha e 2.ª Circular. Prevalece de novo a visão curta, de atacar o automóvel, sem que se assegure a alternativa, que é o Metropolitano. Em Lisboa, é prioritário prolongar a linha vermelha para ocidente, chegando às Amoreiras, Campo de Ourique, Pólo Universitário da Ajuda, Restelo e Miraflores, assim como a ligar a linha amarela a Alcântara e Loures. É preciso liderança, Lisboa não pode ter um Presidente subserviente a uma política de obras públicas na versão José Sócrates 2.0.

Lisboa vive uma emergência de saúde pública. Ratos, baratas, lixo, são para Fernando Medina assuntos menores. Não dão notícias trendy, e irritam quando são assunto. Aqui, não há capital de nada, nem fica bem no marketing político, por isso adota uma postura de negação.

No “pós-crise”, com receitas como nunca teve, Lisboa está a passar ao lado. Vive um ciclo político esgotado, sem ideias, agarrado a preconceitos socialistas do passado. Navega à vista e não resolve nenhum problema estrutural. Há uma emergência política em Lisboa, e o PSD deve responder afirmativamente a esse desafio. Apostando numa nova geração de políticas, inovando na social-democracia, conhecendo bem os dossiers; apostando em políticos dedicados à cidade, que não fazem de Lisboa o tempo livre da Assembleia da República ou do Parlamento Europeu. Agregando internamente, porque é possível, e abrindo à sociedade, que está disponível. Mostrando competência para enfrentar os novos desafios.

É possível sair da letargia, enquanto vamos a tempo. É preciso uma nova Lisboa, depois de Fernando Medina.

*Vereador do PSD na Câmara Municipal de Lisboa