Faz 30 anos este Natal que mataram o ditador da Roménia, Ceausescu, e a sua querida mulher. Sobre isso não há grandes dúvidas porque a sua execução a tiro ditada por tribunal militar foi atabalhoadamente filmada e os tempos não eram de teorias de conspiração. Morreu e está morto. As cenas são brutais — se bem me lembro. E hão de estar obviamente disponíveis na net. Com o fuzilamento do casal Ceausescu, a revolução de 1989 teve o seu epílogo e deu-se início a um processo de revelação dos podres do regime. Sendo que um dos que marcaram esse momento foi a descoberta de dezenas de orfanatos atafulhados de crianças macilentas, esquálidas, moribundas atiradas exatamente para morrer. E, coisa incrível, nessa altura o mundo chocava-se com estas cenas. Mas aquilo era confuso. O que eram aquelas crianças esqueléticas, deficientes muitas, em condições sub-humanas deixadas assim deliberadamente à morte?
Hoje, três décadas passadas já se tem uma ideia mais precisa. Florin Soare, uma investigadora do Instituto dos Crimes do Comunismo passou vários anos a reunir testemunhos e calcula que entre 1966 e 1989 houve qualquer coisa como 15 mil a 20 mil mortes desnecessárias de crianças enviadas para estes “orfanatos”. A investigadora ficou espantada com a grandeza dos números, que está determinada em trazer os autores destes crimes à Justiça. O que parece ser algo pouco provável quando até o círculo mais restrito de Ceausescu não chegou a tribunal. Ainda mais num país que considera a questão dos orfanatos uma mancha na reputação nacional e que tem a noção de que as imagens que foram então difundidas globalmente tiveram um impacto negativo brutal. O melhor é esquecer.
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