Tinha decidido escrever sobre o que dizem os programas eleitorais da direita – em contraposição com o do PS -sobre igualdade e não discriminação. Interessa-me, depois do episódio “casas de banho”, dar conta da insensibilidade confirmada em programa eleitoral do PSD e do CDS em matéria de igualdade. Interessa-me verificar que em 2019 o pavor eleitoral da direita de Rui Rio e de Assunção Cristas à “orientação sexual” é tanto que PSD, no seu programa, refere-se à “opção sexual”. Não por acaso, desta vez a direita não compareceu ao debate promovido pela ILGA. Talvez num misto de vergonha e de cobardia, PSD e CDS tenham preferido ficar na sua casa de banho, aquela onde as pessoas gays, lésbicas e transexuais não existem. Foi uma pena, porque perderam a oportunidade de ouvir que Lara Crespo, ativista transexual que se suicidou recentemente, não era uma “ideologia”, mas uma pessoa. Se esta parte da Constituição não existe para a direita, para o PS o compromisso é claro. Como se lê no nosso programa eleitoral, “o compromisso do PS no combate à discriminação em função da orientação sexual, identidade e expressão de género e características sexuais tem sido marcante para todos os avanços alcançados nos últimos anos, nomeadamente o fim da discriminação no acesso ao casamento, à adoção e à procriação medicamente assistida e a aprovação do primeiro quadro legal referente ao direito à autodeterminação da identidade de género. Esta discriminação cruza-se com múltiplos fatores, como os preconceitos culturais e de género, exigindo uma atuação transversal em várias áreas, de modo a alcançar a plena igualdade das pessoas LGBTI. A este respeito, o PS irá: lançar campanhas com vista à desconstrução de estereótipos e prevenção de práticas homofóbicas, bifóbicas, transfóbicas e interfóbicas; desenvolver instrumentos didáticos que potenciem uma maior sensibilização perante as questões da identidade de género e da orientação sexual em meio escolar, com vista a promover uma cultura de igualdade e não discriminação entre homens e mulheres, combatendo estereótipos nas escolas e nas práticas pedagógicas; desenvolver uma estratégia específica para apoio às pessoas transsexuais e aos processos de transição”. A sensibilização para a igualdade e não discriminação nas escolas é absolutamente essencial. Já sabemos que a direita abana o slogan da “autonomia das escolas”, tática à lá Bolsonaro para permitir barrar o ensino dos valores constitucionais em nome da vontade obscurantista dos pais. Era sobre isto que queria escrever, era sobre a não adesão da direita à Constituição nestas matérias que têm a ver com a vida de pessoas concretas. Eis que perante uma acusação do Ministério Público Rui Rio revoga o caráter que nos havia vendido dias antes (não vou perder tempo a falar de Assunção Cristas). Rio, o homem que dizia respeitar acima de tudo a presunção de inocência e a separação de poderes, deu um arguido como culpado e sugeriu que o Primeiro-Ministro fosse um criminoso. Era agora, em campanha, que Rio devia provar se aquele caráter que nos havia vendido era à prova de bala. Afinal, Rui Rio não tem caráter. Espero que quem vota veja isso, essa podridão.
(Afinal) Rui Rio não tem carácter
Não por acaso, desta vez a direita não compareceu ao debate promovido pela ILGA. Talvez num misto de vergonha e de cobardia, PSD e CDS tenham preferido ficar na sua casa de banho, aquela onde as pessoas gays, lésbicas e transexuais não existem.