Opinião

A cada uma a sua escolha

Não aceito qualquer regra ou pressuposto sobre a forma como a mulher se deva portar ou agir em qualquer dos seus papéis ou fazer as suas escolhas de vida, como se a luta pela igualdade de género obrigasse as mulheres a imolar a sua liberdade e felicidade pessoal em prol de uma missão maior de provar ao mundo que são capazes. É o caminho errado

Foram recentemente publicadas, na comunicação social nacional, duas opiniões de duas mulheres sobre o tema da igualdade de género, de Joana Bento Rodrigues e Mariana França Gouveia. Pessoalmente, não me revejo em qualquer delas e julgo que nenhuma contribui positivamente para a luta pela igualdade de género.

Respeitar as mulheres e exigir igualdade no seu tratamento comparativamente com os homens (com tudo o que isso implica) passa antes de mais por reconhecer-lhes, sem moralismos, liberdade de escolha. As mulheres têm igual capacidade e competência que os homens e podem desempenhar as suas funções e posições profissionais com igual qualidade e eficácia. Mas, isto reconhecido, não aceito qualquer regra ou pressuposto sobre a forma como a mulher se deva portar ou agir em qualquer dos seus papéis ou fazer as suas escolhas de vida, como se a luta pela igualdade de género obrigasse as mulheres a imolar a sua liberdade e felicidade pessoal em prol de uma missão maior de provar ao mundo que são capazes. É o caminho errado.

A mulher é, antes de tudo, uma pessoa e é nesse plano que deve centrar-se a reivindicação pela igualdade com os homens. Como pessoa, a mulher é livre de fazer as suas escolhas e de tomar as suas decisões no plano pessoal e no plano profissional. E se é verdade que é mais difícil para as mulheres do que para os homens conciliar os dois, as decisões que elas tomem, nos vários momentos das suas vidas, privilegiando ora um ora outro, ou apenas unicamente um desses planos, têm de ser verdadeiramente respeitadas. Respeitá-las não significa aceitá-las, mas admirá-las pela coragem em exercer livremente essa opção, tantas vezes criticada pela sociedade, pela família, pelos amigos, pelos pares.

Não há dois estereótipos de mulheres. Não aceito que se reduza a mulher a uma de duas categorias. Não coloquemos as coisas como as domésticas e dedicadas à família e as bem-sucedidas que vingam profissionalmente, as fracas e as rijas, as que desistem e as que resistem. Não enveredemos pelo extremismo e preconceito. Cada uma de nós vê o seu percurso moldado por muitas circunstâncias. Pode ser-se feliz com ambição, sim; mas o contrário pode acontecer também; não podemos ignorar que a competitividade inerente às conquistas que a ambição porventura proporcionou traz muitas vezes infelicidade, tristeza, desilusão e põe a saúde em risco; e também é certo que as mulheres são nesse contexto mais vulneráveis, porque alvo de discriminações muitas vezes subtis mas igualmente mortíferas. Mas só cada uma sabe e pode escolher o que quer para si. As mulheres não fraquejam quando, expostas a esse combate, decidem mudar de rumo em nome da sua própria felicidade, antes exibem quando o fazem uma enorme coragem que só às rijas assiste.

Um dia nada disto (leia-se quotas, lei da paridade e outros instrumentos do género) será necessário. Mas que esse dia não chegue à custa de mártires impostos pelos paternalismos e moralismos da sociedade. Que sejam as mulheres que livremente fazem as suas escolhas, todas elas, a conquistar definitivamente o respeito de todos.