Longevidade

“Quando alguém se reforma, não deixa de produzir”: estudo mostra o valor monetário de envelhecer com saúde

Não estão no mercado de trabalho, mas desempenham atividades valiosas: as pessoas que envelhecem de forma saudável podem gerar um valor económico relevante, que não é visível nas medidas tradicionais, demonstra o trabalho de médico e professor da FMUP

Frazao Studio Latino

O crescente envelhecimento da população é um dado adquirido, mas demonstrar os potenciais ganhos económicos associados à saúde nas idades mais avançadas constitui um desafio. Agora, no âmbito do trabalho desenvolvido através do European Observatory on Health Systems and Policies, surge um novo método que permite estimar o valor monetário de envelhecer com saúde.

Na sequência do objetivo de procurar perceber como é possível “avaliar melhor o envelhecimento do ponto de vista económico”, o Reino Unido foi utilizado como caso de estudo para uma análise de dados resultantes de inquéritos “sobre a forma como as pessoas usam o seu tempo”, neste caso as maiores de 65 anos, explica ao Expresso o médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), João Vasco Santos, que assina o trabalho publicado na revista científica Social Science & Medicine juntamente com o economista da saúde Jonathan Cylus.

Avaliando o tempo utilizado em “tarefas informais” – como cozinhar, limpar a casa ou cuidar de um familiar – e atribuindo um “valor monetário” a cada uma, os investigadores compararam “qual a diferença entre ter muito boa saúde e muito má saúde”. “No Reino Unido estamos a falar de uma diferença que representa cerca de 20 a 30% do PIB per capita, o que é um valor muito considerável e uma nova forma de olhar para a produção destas pessoas maiores”, afirma o também investigador do CINTESIS.

Ou seja, apesar de “não produzirem do ponto de vista formal”, contribuem através de atividades que “têm valor, tanto é que alguns destes serviços são contratados”. “Quando alguém se reforma, não deixa de produzir, produz é coisas diferentes. Não devem ser consideradas como pessoas que não produzem só por não estarem no mercado de trabalho”, resume João Vasco Santos.

O trabalho conclui que “manter uma boa saúde comparado a ter uma má saúde leva a uma enorme diferença em termos de valor económico”, e que aumenta com a idade, o que “demonstra a importância de um envelhecimento saudável para a economia”. Ao quantificar o valor monetário da saúde nos mais velhos, os investigadores consideram que o método apresentado – que pode ser adaptado a outros contextos – pode servir como argumento para um maior investimento na área do envelhecimento saudável.

“É sempre uma melhor estratégia manter saudável do que voltar a ser saudável. É mais fácil manter saúde do que recuperar saúde”, aponta João Vasco Santos, especialista em saúde pública. Neste campo, falta ainda “fazer muito investimento na prevenção”, nomeadamente para a manutenção da saúde ao longo da vida.

Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.