Foi no ano de 1796 que a primeira vacina foi administrada no Reino Unido, pelo médico Edward Jenner, que vacinou uma criança contra a varíola. Desde aí os esforços de imunização evoluíram, mais de uma dezena de doenças foram erradicadas e a esperança média de vida mais do que duplicou, Henrique Lopes diretor do Nova Center for Global Health explica que "temos uma população cada vez mais envelhecida, com cada vez menos natalidade, portanto a abordagem histórica que era feita de pensarmos na vacinação para crianças e jovens - eventualmente - hoje é perspectivada numa lógica de ciclo de vida, logo, estamos cá mais anos, temos de fazer mais coisas por esses anos que estamos a mais e acima de tudo precisamos de fazê-lo para garantir qualidade de vida".
Para os especialistas, apostar na vacinação ao longo da vida é a chave. "Há vacinas que só são recomendadas acima dos 60/65, mas se a pessoa tiver uma condição clínica pode começar a precisar de tomar aos 25 ou 30 anos, portanto quando nós falamos em vacinação para toda a vida não é necessariamente para a pessoa que já está com 80", explica Henrique Lopes. Francisco George - da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública e antigo diretor-geral da Saúde - acrescenta que existem já várias vacinas para prolongarem a existência e para serem tomadas ao longo da vida, como por exemplo vacinas para "infeções respiratórias que dispõem hoje de vacinas muito eficazes, uma cobertura excelente para os idosos. Mas também há infeções respiratórias de nível viral, como é caso da gripe, há uma nova vacina da gripe - chamada vacina de alta dose - que tem uma indicação em especial para os mais idosos. Mas há mais vacinas... por exemplo em relação à zona". Para além da prevenção de doenças, as vacinas podem fazer mais do que isso, como contribuir para a menor resistência aos antibióticos.
Apesar dos movimentos negacionistas terem sido amplificados com a rápida introdução da vacina contra a Covid-19 no mercado, a verdade é que os dados da Unicef mostram que foram salvas mais de 150 milhões de vidas graças à vacinação, nos últimos 50 anos. Zelam pela saúde individual, pública, mas também pela saúde financeira do Estado, como mostra o mais recente estudo da Escola Nacional de Saúde Pública e da Universidade Nova, que prevê uma poupança de €245 milhões ao Estado português caso o plano de vacinação seja alargado - "A compra das vacinas vai ser compensada pela diminuição das despesas, que a doença viria provocar, não só nas despesas que são correspondentes à hospitalização, cuidados intensivos, como os tratamentos, como os dias de baixa, onde as pessoas deixam de produzir", explica Francisco George.
Apesar do alargamento da vacinação ser o caminho apontado pelos especialistas, a obrigatoriedade não deve estar em cima da mesa, como defende o diretor do NOVA CENTER FOR GLOBAL HEALTH que explica que o caminho da educação é sempre o mais viável porque as pessoas "estão conscientes de que estão a fazer o melhor para si e para os seus, então agem, mas agem porque sabem que é assim, não porque alguém vem lá e diz que é assim, quase como um castigo, isso só levanta resistências”.
Envolver empresas, as instituições, o governo e até mesmo as seguradoras no debate sobre as vacinas é apontado pelos investigadores como a chave para rumar à lógica de uma vacinação para toda a vida.
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