Longevidade

Portugal tem um dos consumos de álcool mais elevados entre os países da OCDE

Dados de 2019 mostram que os portugueses consomem, em média, 12 litros de álcool por ano, o equivalente a duas garrafas e meia de vinho ou a 4,6 litros de cerveja por semana

Marta Tuna

O último relatório do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD)
revela que os portugueses consomem cada vez mais álcool e a situação fica mais preocupante quando se olha para os jovens, explica Manuel Cardoso do ICAD: " aos 18 anos, 80 a 85% dos jovens já experimentou uma bebida alcoólica, praticamente 50% já teve consumos esporádicos, de grandes quantidades. num curto espaço de tempo", o chamado 'binge drinking', ou seja, "4 bebidas para as mulheres em cada ocasião, 40 gramas de álcool puro ou 5/6 bebidas, para os homens, 60 gramas de álcool puro numa só ocasião. A embriaguez são já os efeitos do álcool o que significa que o consumo foi ainda superior", explica.
Entre os 15 e os 19 anos é uma das três fases da vida em que o consumo de álcool tem maior impacto no cérebro, mas antes das consequências a longo prazo, existem efeitos quase imediatos como "indisposições, perturbações gastrointestinais, há uma perda da perceção da realidade e da maneira como avaliam as situações", diz a psicóloga Gracinda Santos, acrescentando que o consumode álcool em grandes quantidades aumenta "a probabilidade de se envolverem [os jovens] em comportamentos de risco". Dos comportamentos de risco resultam, violência e muitas vezes acidentes, explica o vogal do ICAD, "violência que chega aos limites, quaisquer que eles sejam, pode deixar a pessoa com problemas definitivos ou permanentes ou pode levar à morte. O mesmo com os acidentes de viação ... os óbitos na estrada são ainda demasiado altos para serem negligenciados, essas mortes contam para diminuir a esperança de vida ".
Além de efeitos a curto prazo, o álcool também impacta na longevidade e os anos de vida saudáveis ao condicionar a saúde ao longo de toda a vida.
Para além dos impactos diretos nas funções cerebrais "relacionados com as funções cognitivas, com a capacidade de concentração, memória... pode potenciar o desenvolvimento de perturbações da personalidade em jovens adultos (...)", explica a psicóloga Gracinda Santos
A isto Manuel Cardoso acrescenta que o consumo de álcool precoce ou em qualquer fase da vida pode estar na origem de "doenças cardiovasculares, desde a cirrose ao cancro, vários cancros, 7 tipos de cancro relacionados com o consumo de álcool".
Os jovens começam a beber por pressão social, para integração, sentimento de desinibição ou até mesmo por curiosidade. Reduzir os consumos é uma tarefa difícil, uma vez que esta ainda é uma "droga" socialmente aceite" e "muito relacionada com as situações de celebração, de festa... e isso, por si só também se constitui um fator de risco, porque se está associada a coisas boas, não se pressupõe tantos malefícios", explica a psicóloga.
Para o ICAD e os restantes especialistas da área é importante limitar os consumo ao nível familiar, apostando no diálogo e vigia dos consumos, mas também agir ao nível da legislação aplicada à publicidade, aos preços e locais de venda. Apostar na literacia é fundamental.