Longevidade

Jovens menos satisfeitos e finlandeses no topo: o que mostra o relatório sobre a felicidade mundial

Pelo sétimo ano consecutivo, a Finlândia ocupa o primeiro lugar da tabela dos países mais felizes, de acordo com o Relatório da Felicidade Mundial. O estudo anual – divulgado na data em que se assinala o Dia Internacional da Felicidade – mostra também que os jovens estão menos felizes em regiões como a América do Norte e a Europa Ocidental. Já na Índia, a idade avançada associa-se a uma maior satisfação com a vida

Westend61/Getty Images

A Finlândia surge novamente no topo da lista dos países mais felizes do mundo no Relatório da Felicidade Mundial, um estudo anual publicado pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas com a Universidade de Oxford, divulgado nesta quarta-feira. Portugal sobe uma posição face ao ano anterior, para o 55.º lugar, com uma pontuação de 6,030 numa escala de zero a dez.

Depois da Finlândia (7,741) seguem-se Dinamarca (7,583), Islândia (7,525), Suécia (7,344) e Israel (7,341). A completar os primeiros dez estão Países Baixos (7,319), Noruega (7,302), Luxemburgo (7,122), Suíça (7,060) e Austrália (7,057). Os dez primeiros países mantiveram-se “praticamente os mesmos” desde antes da pandemia de covid-19, aponta o documento.

Os 10 países mais felizes


No fim da tabela, Líbano (142.º) e Afeganistão (143.º) continuam a ocupar os dois últimos lugares. Mantém-se a existência de um “grande fosso” entre os países do topo e os do final, com um total de seis pontos de diferença entre a Finlândia e o Afeganistão.

As classificações refletem uma média do período entre 2021 e 2023. A avaliação baseia-se em três indicadores: avaliações sobre a vida, emoções positivas e emoções negativas. Os inquéritos são realizados pela empresa Gallup e, depois, a análise dos dados recolhidos tem em conta outras seis variáveis: rendimento, apoio social, esperança de vida saudável, liberdade, generosidade e corrupção.

Índice de felicidade no mundo


Jovens menos felizes

A edição deste ano do relatório centra-se na felicidade das pessoas em diferentes fases da vida. O padrão global mostra os jovens, em média, mais felizes do que os mais velhos. Mas analisando a variedade de experiências dentro de cada região, por exemplo no caso da Europa Ocidental, conclui-se que Noruega, Suécia, Alemanha, França, Reino Unido e Espanha são países onde os idosos são agora “significativamente mais felizes” do que os jovens, enquanto Portugal e a Grécia apresentam o “padrão inverso”.

O destaque vai para a América do Norte, onde a felicidade “caiu tão acentuadamente para os jovens que estes são atualmente menos felizes do que os mais velhos”. A felicidade dos jovens também registou uma queda, mas menos acentuada, na Europa Ocidental. Nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, a felicidade diminuiu em todas as faixas etárias, mas especialmente para os mais novos (entre os 15 e os 24 anos), o que se traduz numa “grande mudança” relativamente ao período entre 2006 e 2010, quando os jovens eram mais felizes do que os grupos na meia-idade e quase tão felizes como as pessoas com 60 ou mais anos.

“Ao reunir os dados disponíveis sobre o bem-estar de crianças e adolescentes em todo o mundo, documentámos quedas desconcertantes, especialmente na América do Norte e na Europa Ocidental. Pensar que, em algumas partes do mundo, as crianças já estão a viver o equivalente a uma crise de meia-idade exige uma ação política imediata”, destaca em comunicado o professor Jan-Emmanuel De Neve, diretor do Wellbeing Research Centre da Universidade de Oxford.

Em termos de gerações, o documento revela que os nascidos antes de 1965 apresentam avaliações de vida cerca de um quarto de ponto mais elevadas do que os nascidos depois de 1980. Entre os que nasceram antes de 1965, essas avaliações aumentam com a idade, enquanto para os que nasceram após 1980, a felicidade diminui a cada ano de idade.

Demência e envelhecimento

Um dos capítulos do relatório é dedicado ao bem-estar da população a envelhecer a nível global: a Organização Mundial da Saúde estima que o número de pessoas com 65 ou mais anos duplique até 2050. Ao mesmo tempo, o número de pessoas com demência também vai continuar a crescer, atingindo aproximadamente 139 milhões até à mesma data.

“Níveis mais elevados de bem-estar têm sido fortemente associados a um menor risco de demência futura, sugerindo que o aumento do bem-estar pode ser uma abordagem não farmacológica promissora para a prevenção da demência”, salienta o documento. Entre as ações que favorecem o bem-estar estão o envolvimento social e sentir que a vida tem um propósito ou sentido.

É apontada a necessidade de mais investigação sobre os grupos com maior risco de desenvolver a doença, nomeadamente pessoas que vivem em países de baixo e médio rendimento, minorias raciais e étnicas e pessoas com estatuto socioeconómico mais baixo. O impacto das desigualdades no percurso e qualidade de vida de pessoas com demência e respetivos cuidadores já está a ser estudado em Portugal.

“Mudanças ambientais e atividades que aumentam a autonomia, a competência e a relação com os outros têm demonstrado melhorar o bem-estar” de quem vive com demência, destaca ainda o relatório. Fazer exercício físico, atividades ao ar livre como jardinagem, ler histórias ou ouvir música são alguns dos exemplos. O sucesso é maior quando as atividades são adaptadas a cada um e um contributo importante pode ser dado através de programas intergeracionais.

Mais idade traz felicidade na Índia

O caso particular da Índia é alvo específico de análise, desde logo porque o país tem 140 milhões de pessoas com 60 ou mais anos, um valor que fica apenas atrás, a nível mundial, da China (250 milhões). Além disso, a taxa média de crescimento dos indianos com 60 anos ou mais é “três vezes superior” à taxa de crescimento global da população do país.

O estudo conclui que, na Índia, a felicidade aumenta na fase mais avançada da vida, mais para os homens do que para as mulheres. “A idade avançada está associada a uma maior satisfação com a vida na Índia, refutando algumas afirmações de que a associação positiva entre a idade e a satisfação com a vida só existe em países com rendimentos elevados”, pode ler-se.

Os adultos mais velhos com níveis de educação mais elevados demonstraram estar “significativamente mais satisfeitos” com a vida do que aqueles sem qualquer educação formal. A satisfação com as condições de vida, a perceção de discriminação e a autoavaliação da saúde surgiram como os três principais fatores preditores da satisfação com a vida.

Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.