Um simulador de envelhecimento tem estado a ser testado em Portugal pela Associação Nacional de Gerontologia Social (ANGES). Além de permitir simular as alterações físicas que vão ocorrendo com o avançar da idade, é também uma ferramenta que a organização tem utilizado para formação de cuidadores.
Trata-se de um conjunto de “objetos analógicos”, ou seja, que “funcionam de forma mecânica”, explica ao Expresso o presidente da ANGES, Ricardo Pocinho. Entre eles estão pesos, nomeadamente para a zona lombar e dos pulsos, que “simulam o peso provocado pela perda da massa muscular e da rigidez lombar”, e “peças de tração mecânica que provocam aperto e inflexão, causando dificuldades articulares” nas mãos, cotovelos, joelhos e pés.
Do simulador fazem ainda parte um acessório para os pés que provoca desequilíbrio, uns óculos que desfocam a visão e uns auriculares que fazem um “tamponamento” da audição. “Este conjunto de objetos simula aquilo que cada um de nós vai sentir, sem necessidade de ter nenhuma patologia associada”, indica o também professor do Politécnico de Leiria.
O equipamento tem sido utilizado para formação, com o objetivo de “colocar cuidadores na posição de cuidado”, para que melhor entendam as dificuldades daqueles com quem trabalham. Em experiências com objetos ou situações do dia a dia, é possível perceber que “não é má vontade não conseguir vestir a camisa” ou que, muitas vezes, “as pessoas não se levantam porque não conseguem”. “A própria idade, independentemente daquilo que é a vontade própria, vai levar a que percamos algumas funcionalidades e mobilidade e o simulador permite exatamente isso.”
Ao nível da audição, por exemplo, compreende-se qual o “posicionamento correto para falar com um idoso que tem diminuição auditiva” – e que não passa por “falar aos berros”. “É quase aquela ideia de que para sentirmos os outros, temos de calçar os sapatos dos outros. É colocar as pessoas numa situação em que os cuidadores têm a sensação de quem é cuidado”, resume Ricardo Pocinho.
Tal permite prestar melhores cuidados de saúde, não só por quem trabalha em estruturas residenciais, centros de dia ou apoio domiciliário, mas também pelos profissionais do futuro: os alunos do Politécnico de Leiria também têm utilizado o simulador, para praticar esta “sensibilidade”.
Em breve, o trabalho entrará numa segunda fase, com testes a envolver objetos complementares, “já com alguma componente tecnológica”. Estes permitirão simular tremores, que “podem gerar a necessidade de ter, por exemplo, colheres com uma aerodinâmica diferente ou canecas com uma pega diferente, para que as pessoas consigam continuar a alimentar-se com autonomia”. Outros dispositivos vão possibilitar simular surdez ou problemas visuais, como retinopatia diabética ou cataratas.
No futuro, pretende-se que a iniciativa – que abrange uma rede de parceiros do projeto alemão Age simulation suit GERT – evolua ainda mais, no sentido de “conseguir ter um contexto real, ou seja, uma simulação de um apartamento, nem que seja no modelo de estúdio, em que as pessoas possam experimentar as barreiras da vida diária com este tipo de equipamento”, explica Ricardo Pocinho. “Por exemplo, os tapetes, com os pés do simulador calçado, são queda na certa. Queremos que as pessoas percebam isto”, ilustra. Será mais um passo no trabalho que a ANGES tem vindo a desenvolver desde 2012, quando surgiu sob o princípio de promover um “envelhecimento ativo, positivo e bem-sucedido”.