Longevidade

Dia Mundial da Prevenção de Quedas: risco aumenta com a idade

O maior número de quedas fatais ocorre em pessoas com mais de 60 anos. Criado pela Organização Mundial da Saúde para alertar sobre os riscos, sobretudo nas faixas etárias mais avançadas, o Dia Mundial da Prevenção de Quedas assinala-se nesta sexta-feira

THIBAUD MORITZ/Getty Images

Estima-se em 684 mil o número de pessoas que morrem anualmente devido a quedas, o que faz com que esta seja a segunda causa principal de morte acidental a nível mundial, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2021. Uma queda pode acontecer a qualquer pessoa, mas o risco aumenta com o avançar da idade. Segundo a OMS, os adultos com mais de 60 anos são os que sofrem o maior número de quedas fatais.

Por ser “imprevisível”, a prevenção é um “pouco difícil”, explica ao Expresso a enfermeira Ana Fontainhas, coordenadora do Grupo de Prevenção e Controlo de Quedas do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca. “A queda tem imensas consequências para a pessoa, seja ela mais nova ou mais velha, mas na população mais idosa estas costumam ser mais graves”, destaca.

Entre os fatores de risco que potenciam as quedas nestes grupos etários estão a diminuição da visão e da audição, alterações da marcha, doenças por vezes com comorbilidades associadas e também a utilização de alguns medicamentos, que podem causar fraqueza ou tonturas. Ana Fontainhas salienta ainda a importância do “vestuário e calçado impróprios, quando o tamanho não é o adequado”.

Uma análise publicada em 2020 pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge indica que 112.988 portugueses caíram em “ambiente doméstico e de lazer” em 2019, com necessidade de recorrer a um serviço de urgência, o que constitui o “mecanismo de lesão mais frequente” neste contexto. As quedas representam 88% das lesões registadas em pessoas com mais de 65 anos.

Em casa, a iluminação inapropriada e obstáculos como tapetes estão entre os perigos. Os tapetes representam um “fator de risco muito grande” porque muitas pessoas “têm muitos que não são necessários e sem antiderrapante”, alerta Ana Fontainhas. É também frequente que as quedas ocorram com a subida a bancos, cadeiras ou escadotes, por isso deve-se “tentar pôr mais à mão” aquilo que é mais necessário. Se, ainda assim, o uso destes materiais for necessário, o ideal é que se faça “de uma vez só”, sem subir e descer consecutivamente.

Mas os problemas também estão na rua. As dificuldades nos acessos e na circulação, por exemplo devido a desníveis, buracos ou até a lixo no chão, são propícios a quedas. “O problema é a má sinalização destes perigos”, aponta a especialista. Assinalar quando há obras ou pisos molhados permite evitar acidentes, assim como uma iluminação adequada, para que “as pessoas visualizem antecipadamente” o perigo.

Quedas em contexto hospitalar

Em 2019 foram notificadas 9124 quedas nos estabelecimentos de saúde portugueses, o que constitui o segundo incidente mais registado, depois das úlceras por pressão (9685), de acordo com o relatório de monitorização e segurança da Direção-Geral da Saúde (DGS) publicado em 2020. Entre 2015 e 2018, as quedas foram o incidente com maior número de notificações.

No caso do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, a maioria envolve pessoas com mais de 70 anos mas, uma vez que “a longevidade tem vindo a aumentar”, há casos em doentes cada vez mais velhos, nomeadamente acima dos 90 anos, indica Ana Fontainhas, que é também enfermeira responsável do Hospital de Dia e Especialidades Médicas.

A saída do “ambiente a que se está habituado” é o “fator principal” para estas ocorrências. “Ir para um hospital é uma mudança muito drástica, principalmente num doente mais idoso”, explica. Além da mudança de espaço, que favorece a desorientação, há outros fatores que podem desempenhar um papel significativo, como a alteração da medicação ou a própria doença que leva ao internamento.

O relatório da DGS indica que, em 2019, 80 em 95 instituições (hospitais e agrupamentos de centros de saúde) tinham implementado práticas para a prevenção de quedas. O grupo que Ana Fontainhas coordena foi criado em 1998 e é uma equipa multidisciplinar, que integra enfermeiros de diferentes áreas, um fisiatra, um fisioterapeuta e um terapeuta ocupacional. A aposta está em “consciencializar os profissionais” do hospital através de formação.

Além disso, quando o doente é internado é feita uma avaliação de risco de queda pela equipa, seguindo-se reavaliações periódicas. “O doente tem um nível de risco atribuído e consoante esse nível tem uma série de medidas específicas”, refere. Quando há registo de quedas, os dados reportados são analisados para que se possa retirar conclusões.

Tendo em conta que a “imobilidade do internamento” também contribui para o aumento do risco de quedas, o grupo tem estado a preparar livros de exercícios que o doente “pode fazer sentado, deitado e em pé, consoante a situação clínica”, com o objetivo de “ativar a circulação” e combater a “perda de massa muscular e de força”.