“Holocausto”: sacrifício religioso durante o qual a vítima ofertada a um deus é consumida pelo fogo. Gilles Kepel justifica o título dado ao seu mais recente livro logo nas primeiras páginas da obra, referindo duas “catástrofes” que se sucederam: o pogrom contra os israelitas, a 7 de outubro, e o ataque praticamente indiscriminado contra Gaza, que se prolonga há dez meses. Poucos autores são tão conhecedores do Médio Oriente como o investigador francês, que se especializou em movimentos islamitas. Ao longo de quase cinco décadas, tem escrito sobre o mundo árabe e dado aulas sobre o Médio Oriente. Quando, no entanto, sugeriu substituir as suas aulas sobre o Oriente por aprendizagens do Sul Global, o reitor da École Normale Supérieure preferiu que Gilles Kepel se afastasse. Mas, em entrevista ao Expresso, o arabista e professor francês explica a relevância do tema e como a divisão entre o Norte e o Sul Global se tornou o grande tema político que compromete todos os outros.
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“Há holocaustos do lado de Israel e do Hamas, sacrifícios em nome de uma conceção de política que se mistura com religião e misticismo”
A divisão entre o Norte e o Sul Global veio substituir os antigos antagonistas Leste-Oeste. De acordo com Gilles Kepel, arabista e cientista político francês perito em questões do Médio Oriente, os fundamentos morais do sistema mundial que surgiu depois de 1945 são hoje “obsoletos”. Em entrevista ao Expresso, o autor de “Holocaustos - Israel, Gaza e a guerra contra o Ocidente” explica como a divisão Israel-Palestina vai desafiar os fundamentos morais da ordem mundial e a política interna dos países ocidentais. “O 7 de outubro marcou o fim do domínio ocidental”, diz