Sima foi raptada na madrugada de 9 de setembro de 2021, ainda nem três semanas tinham passado desde que a coligação de forças ocidentais lideradas pelos Estados Unidos da América (EUA) saíra do Afeganistão, abandonando o país ao regime talibã depois de 20 anos de ocupação. A mãe foi fechada num quarto, o pai agredido até perder os sentidos e Sima, então com 16 anos, desapareceu.
Nessa noite, a família escondeu-se na casa de conhecidos. Na noite seguinte, os talibãs regressaram para revistar a casa de novo, à procura da outra filha, Mina, que já fugira para a Grécia, em 2019, onde o Expresso a conheceu. Os pais, depois de tentarem, em vão, perceber onde estava Sima, decidiram fugir, temendo represálias. Em poucos dias, tinham-se mudado para o Irão.
“Depois de me arrastarem pelos cabelos, obrigaram-me a entrar no carro. Sofri uma descarga elétrica e perdi a consciência. Quando acordei, estava vendada, e presa numa cave escura e imunda. Ouvia os gritos de outras pessoas a serem chicoteadas. Olhei para a minha roupa e pensei: ‘É demasiado fina, vou ser apedrejada e não tenho como me proteger’”, conta Sima.
Durante cinco anos, trabalhara para uma organização internacional como tradutora e instrutora num projeto que ensinava mulheres a saber costurar à máquina. Pediu para ser retirada, sabia que viriam atrás de si, como de todos os que tinham colaborado com a coligação, mas a resposta chegou depois dos seus sequestradores.