O grupo islamita Hamas lamentou este domingo não ter recebido qualquer nova proposta de mediadores para tréguas em Gaza, depois da suspensão das negociações no início do mês. Apesar do impasse, garantiu estar disponível para analisar “de forma positiva e responsável” qualquer nova iniciativa.
As negociações para um cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza foram suspensas depois de um ataque de Israel aos líderes do grupo islamita, realizado no início deste mês no Qatar, quando decorriam conversações.
O ataque provocou, segundo o Hamas, a morte de cinco membros do movimento islamita palestiniano - nenhum dos quais era responsável da delegação de negociações -, tendo sido criticado por vários Estados.
Antes dessa ofensiva, Israel tinha mostrado abertura para uma proposta de cessar-fogo apresentada pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, desde que isso implicasse a deposição de armas pelo Hamas e libertação de todos os reféns na Faixa de Gaza.
De acordo com fugas de informação publicadas na imprensa israelita, a proposta previa a libertação de 48 reféns, vivos e mortos, logo no primeiro dia do cessar-fogo. Em contrapartida, seriam libertados prisioneiros palestinianos e teriam início, nesse mesmo dia, negociações para pôr fim definitivo à guerra, sob supervisão de Trump.
Situação humanitária agrava-se
Nas últimas 24 horas, 77 palestinianos, incluindo seis pessoas que aguardavam ajuda alimentar, foram mortos e 379 ficaram feridos em ataques israelitas, de acordo com as autoridades de saúde locais, citadas pela “Al-Jazeera”. Dois corpos foram ainda recuperados dos escombros de bombardeamentos anteriores.
O hospital Al-Shifa, o maior do norte de Gaza ainda em funcionamento, continua a trabalhar em condições extremas, com falta de combustível, medicamentos e equipamentos. O diretor, Muhammad Abu Salmiya, alertou que o colapso da unidade seria uma “catástrofe”, já que milhares de feridos e deslocados dependem do hospital.
Na Assembleia-Geral das Nações Unidas, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita, príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, acusou Israel de “violações diretas do direito internacional” e defendeu uma solução de dois Estados.
O governante alertou para as “práticas brutais” das forças israelitas, incluindo fome forçada, deslocações em massa e mortes sistemáticas, advertindo que a inação da comunidade internacional poderá “agravar crimes de guerra e atos de genocídio”.
Mais de 66 mil palestinianos mortos
A ofensiva israelita contra Gaza começou a 7 de outubro de 2023, depois de ataques do Hamas em Israel, que causaram 1.200 mortos e 251 reféns. Desde então, os bombardeamentos israelitas já mataram mais de 66 mil palestinianos, segundo avançou este domingo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mas cujos dados são reconhecidos pela ONU.
Israel chegou mesmo a bloquear a entrada de alimentos e outros bens essenciais no enclave.
No mês passado, a ONU declarou oficialmente a existência de fome em Gaza. Uma comissão independente acusou ainda Israel de cometer genocídio, alegando “intenção de destruir” o povo palestiniano. Países como a África do Sul levaram o caso ao Tribunal Internacional de Justiça, acompanhados por várias organizações de direitos humanos, internacionais e também israelitas.