Internacional

Tony Blair ressuscita planos de Trump para a reconstrução de Gaza

Há trabalho feito por parte do Instituto Tony Blair, do ex-primeiro-ministro britânico, sobre a reconstrução de Gaza: o desenvolvimento de um projeto para o pós-guerra. Segundo o “El País”, Blair discutiu recentemente e pessoalmente com Donald Trump a proposta de Washington para um cessar-fogo em Gaza e a transição por um governo tutelado por uma autoridade internacional

Cambpell no carro com Tony Blair nos anos 90, quando aquele era braço-direito deste
Ben Curtis/Getty Images

Nas últimas semanas, vários órgãos de comunicação britânicos, dão nota de que Blair discutiu pessoalmente com o presidente norte-americano, Donald Trump, a proposta de Washington para um cessar-fogo em Gaza, a qual incluiria a ideia de um governo de transição palestiniano supervisionado por uma autoridade internacional.

Num inquérito feito em maio promovido pelo Instituto Tony Blair sobre que futuro desejavam os palestinianos, um total de 1.435 deles participaram do trabalho de campo; 426 em Gaza, 759 em Cisjordânia e 250 em Jerusalém Este. Os resultados surpreenderam. "Apenas 4% dos palestinos desejavam que o Hamas governasse a Faixa de Gaza. Nove em cada 10 culpavam o Hamas pela situação atual. E 35% achavam que um possível governo autónomo em Gaza, devia devolver o poder à Autoridade da Palestina ao seu atual presidente, Mahmud Abbas. E, 27%, prefeririam que fosse uma coligação internacional a supervisionar o governo.

Segundo o “El País”, Tony Blair mantém uma relação próxima com o genro de Trump, Jared Kushner, que, para além dos seus negócios imobiliários, serviu como mediador do presidente republicano no Médio Oriente. Kushner é creditado por ajudar a garantir os Acordos de Abraham, que normalizaram a relação de Israel com países árabes como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein durante o primeiro mandato de Trump. Tal como Trump, Kushner também tem interesses nos negócios de construção e desenvolvimento imobiliário.

O diário espanhol avança que Tony Blair e Jared Kushner reuniram-se com o presidente no final de agosto para apresentar um plano pós-Gaza no qual já trabalhavam há algum tempo. Plano este que apenas seria possível se houvesse um governo novo que excluísse o Hamas.

A ideia de uma nova Riviera Maia em Gaza, que implicaria a deslocação de mais de dois milhões de habitantes de Gaza e a conversão da Faixa de Gaza numa nova Las Vegas, ao verdadeiro estilo Trump, provocou protestos e condenações internacionais. Uma situação que fez com que o Instituto Tony Blair se tivesse demarcado de uma proposta que trazia todas as características de um genocídio clássico.

Ainda assim, o antigo primeiro-ministro britânico continuou a promover e a patrocinar os seus próprios planos para Gaza junto da Casa Branca.

A participação de Blair corre o risco de, agitar mais uma vez, as águas revoltas da esquerda britânica, que nunca perdoou o político pelo seu apoio impopular à invasão do Iraque lançada pelo então presidente norte-americano George W. Bush.

O artigo do El Pais, hoje publicado, refere que essa mesma esquerda critica agora duramente o atual primeiro-ministro Keir Starmer pela sua resposta inicialmente morna à tragédia de Gaza e pelo seu apoio declarado a Trump e às suas políticas.

A história repete-se, prossegue o El País, e ressurge um ex-primeiro-ministro acusado exactamente da mesma coisa: um esforço contra-intuitivo para preservar a "relação especial" com Washington, à custa de enfurecer os seus próprios eleitores.

Nos últimos anos, o trabalho do TBI tem-se centrado em desafios como as alterações climáticas, a inteligência artificial e a digitalização dos sistemas de identificação dos cidadãos. A instituição estabeleceu parcerias com organizações filantrópicas de gigantes tecnológicos, como a Fundação Larry Ellison (criadora da Oracle) e a Fundação Bill & Melinda Gates, para lançar propostas políticas provocatórias, mas interessantes, que chamaram a atenção do governo Starmer.

Recentemente, Blair propôs uma mudança de discurso no combate às alterações climáticas, abandonando o tom pessimista e restaurando a energia nuclear como um complemento indispensável às energias renováveis. Pouco depois, Downing Street anunciou um investimento multimilionário em novas centrais elétricas.