Médio Oriente

Franceses detidos na Síria acusados de serem membros do Estado Islâmico vão ser julgados no Iraque

Quarenta e sete franceses suspeitos de terem afiliações ao grupo extremista Estado Islâmico encontravam-se detidos no nordeste da Síria num centro de detenção. Foram transferidos na passada quinta-feira para o Iraque, onde vão serem julgados por terrorismo

Soldado sírio no campo de al-Hol, no nordeste da Síria
Delil Souleiman/AFP via Getty Images

Quarenta e sete pessoas com cidadania francesa presas na Síria, por suspeitas de terem ligações ao grupo extremista Daesh (também conhecido como Estado Islâmico), foram transferidas para o Iraque, onde vão ser julgadas. A Procuradoria Nacional Antiterrorista (PNAT) de França afirmou que esta transferência aconteceu devido a um acordo entre o Iraque e o Curdistão sírio, avançou o "Le Monde".

À Associated Press (AP), autoridades do Iraque afirmaram que os prisioneiros vão ser julgados por terrorismo realizado em território nacional. Apesar da informação só ter sido divulgada na passada quinta-feira, 18 de setembro, os detidos foram transferidos há cerca de um mês e meio, não havendo informações sobre há quanto tempo estavam no campo de detenção sírio.  

Com os cidadãos franceses encontravam-se no centro de detenção no nordeste da Síria cerca de 9000 pessoas, todas acusadas de serem membros do Daesh. O centro, assim como vários no nordeste da Síria, é controlado pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas pelos curdos.

O Iraque confirma a iniciativa da transferência como um reforço no compromisso de julgar criminosos e “terroristas do Estado Islâmico por crimes de guerra, genocídio e filiação a uma organização terrorista”. Uma fonte iraquiana acrescenta que as transferências fazem parte de uma política para “desmantelar o campo de Al-Hol e as prisões na Síria, sob a supervisão das Forças Democráticas Sírias e sob o controle da coligação internacional ", avança o "Le Monde". 

O Coletivo Famílias Unidas, uma organização que reúne parentes de prisioneiros franceses detidos na Síria e no Iraque, afirmou ao jornal francês que não recebeu nenhuma informação sobre transferências.  

Não é a primeira vez que cidadãos franceses são acusados de pertencerem ao Daesh e que estes são transferidos da Síria para o Iraque. Em 2019, 13 franceses suspeitos de pertencer ao grupo terrorista foram transferidos e 11 jihadistas foram condenados à pena de morte. Posteriormente, esta sentença foi substituída por prisão perpétua.  

A França, como membro da União Europeia, não pode ter nenhum envolvimento com este tipo de transferências, devido aos compromissos internacionais que proíbem a pena de morte e a tortura, várias vezes utilizada no Iraque. Em 2019, o governo francês demonstrou a sua oposição à pena capital.

O Iraque, assim como os Estados Unidos, têm vindo a apelar ao repatriamento de todos os detidos. Na passada quarta-feira, o governo francês anunciou que mais três mulheres e dez crianças, que se encontravam nestes campos, foram repatriadas. 

O controlo destes centros de detenção será, eventualmente, transferido das Forças Democráticas Sírias para as novas autoridades de Damasco, devido a um acordo assinado em março pelas duas partes, informa o jornal francês. Este acordo acontece depois do fim do regime de Bashar Al-Assad, em dezembro.

Segundo o "Le Monde", cerca de 60 mulheres e 51 homens de nacionalidade francesa encontram-se ainda nestes campos controlados pela FDS.

Texto de Margarida Nogueira, editado por João Pedro Barros.