O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, decidiu demitir-se na sequência de crescentes apelos do seu partido para que assuma a responsabilidade pela grande derrota nas eleições legislativas de julho, avançou a imprensa local.
Desde que assumiu o poder, há menos de um ano, Ishiba tem enfrentado a perda da maioria da sua coligação governamental nas eleições para ambas as câmaras do Parlamento. A indignação dos eleitores prende-se, em grande medida, com o aumento do custo de vida.
Até domingo, o primeiro-ministro japonês tinha recusado os apelos para que se demitisse, após a mais recente dessas derrotas na votação da câmara alta, em julho. Em vez disso, concentrou-se em acertar os detalhes de um acordo comercial com os Estados Unidos sobre as ‘tarifas’ (taxas alfandegárias) anunciadas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, que afetaram a indústria automóvel japonesa, essencial ao país, e lançaram uma sombra sobre o fraco crescimento económico.
Ishiba derrotou Sanae Takaichi por uma pequena margem na segunda volta da eleição para a liderança do PLD no ano passado. Shinjiro Koizumi, o político telegénico que ganhou destaque como ministro da Agricultura de Ishiba, encarregado de tentar conter a subida dos preços, é outro possível sucessor, de acordo com a agência Reuters.
Como o partido não tem maioria em nenhuma das câmaras do Parlamento, não há garantia de que o próximo presidente do LDP se torne primeiro-ministro. A oposição japonesa continua fragmentada, mas o partido de extrema-direita e anti-imigração Sanseito obteve ganhos significativos nas eleições para a câmara alta em julho, promovendo ideias outrora marginais para corrente política dominante.
A televisão NHK adiantou que Ishiba quer evitar divisões dentro do partido, enquanto o jornal Asahi Shimbun afirmou que o primeiro-ministro já não conseguia resistir aos crescentes pedidos de demissão. Ishiba, que assumiu o cargo em outubro, resistia às exigências dos seus opositores, maioritariamente de direita e do seu próprio partido, há mais de um mês.
A decisão do primeiro-ministro japonês acontece um dia antes de o seu Partido Liberal Democrata decidir se realiza uma eleição antecipada para a liderança caso seja aprovada uma moção de censura contra Ishiba.
Em julho, a coligação governamental de Ishiba falhou o objetivo de conseguir a maioria da câmara alta do Parlamento, tendo o Partido Liberal Democrata e o parceiro Komeito conseguido apenas 46 dos 50 lugares que tinham como meta, para se juntar aos 75 lugares que já tinham.
Estas eleições eram tidas como um teste para o primeiro-ministro, que governava em minoria depois de ter perdido o controlo da câmara baixa do Parlamento, a Câmara dos Representantes, nas eleições gerais antecipadas de outubro de 2024.
O descontentamento público com o aumento do custo de vida, que os aumentos salariais não conseguiram resolver, esteve no centro da campanha, com Ishiba a prometer distribuir 20 mil ienes (cerca de 120 euros) a cada residente.