Ásia

Família imperial do Japão cria conta no Instagram para se renovar e chegar aos jovens

A entrada nas redes sociais surge pouco depois de uma outra monarquia, a britânica, ter passado por um período difícil devido à forma como geriu a sua presença digital, antes do anúncio do diagnóstico de Kate Middleton

Instagram/kunaicho_jp

Num esforço declarado de injetar alguma juventudade numa das monarquias mais antigas e enclausuradas do mundo, a família imperial do Japão, a mais antiga do mundo em continuidade, entrou na semana passada nas redes sociais e criou uma página de Instagram, mas as expectativas para que seja uma janela para o mundo imperial não são propriamente altas.

A página da agência responsável pela gestão dos assuntos da família, com o nome de utilizador @kunaicho_jp, foi criada a 1 de abril mas já tem quase 830 mil seguidores e dezenas de fotografias, que dão conta de cerimónias oficiais, celebrações de Ano Novo e aniversários desde o início do ano.

O imperador Naruhito, a imperatriz Masako e a jovem princesa Aiko, de 22 anos, figuram em quase todas as publicações. Os comentários, contudo, foram desativados.

O objetivo da abertura da família imperial às redes sociais (e ao Instagram em particular) foi assumido pela própria, que disse que queria aproximar-se dos mais jovens, muito mais indiferentes e afastados do imperador do que os seus pais ou os seus avós (muitos dos quais ainda assistiram à queda do império no final da Segunda Guerra Mundial), e limpar a imagem antiquada da instituição.

“Já que a família imperial foi construída com base no consenso popular, esperamos que isto possa aprofundar a compreensão entre os mais novos, que vão liderar a próxima geração”, assumiu Mariko Fujiwara, diretor do departamento de relações públicas da casa imperial, ao jornal japonês Asahi Shimbun.

A verdade é que os imperadores do Japão entraram tarde no “jogo” e numa altura em que os riscos associados às redes sociais tiveram um impacto recente na perceção pública de uma outra velha monarquia. Convém recordar que, no mês passado, foi precisamente a falta de presença digital e de aparições públicas que gerou uma torrente de teorias da conspiração sobre Kate Middleton, teorias essas que só se exacerbaram após a publicação de uma fotografia editada da princesa de Gales com a sua família.

A mulher do herdeiro ao trono inglês acabaria por revelar o seu diagnóstico de cancro e quimioterapia preventiva, uma notícia que chocou os apoiantes da família real britânica e que vincou a sede de conteúdos e a rápida polarização no mundo digital.

À NBC News, Jeffrey Hall, professor de estudos japoneses na universidade de Chiba, no sudeste de Tóquio, explicou que a abertura às redes sociais não é, necessariamente, uma abertura ao mundo, devido aos comportamentos e posições marcadamente conservadores da monarquia.

“Eles consideram publicações humorísticas ou divertidas sobre a família imperial como degradantes para a sua dignidade”, disse Hall, apontando que os monarcas “parecem estar contentes com o facto de a mudança andar ao ritmo de um caracol”.

O imperador japonês é, à semelhança de muitos dos monarcas europeus, um chefe de Estado quase simbólico. A família que reside atualmente no Palácio Fukiage é a mesma que começou a governar o país no ano 660 e Naruhito é o último monarca do mundo a considerar-se imperador.

Mas, apesar do seu papel mais reduzido e de ser muito mais escondida do que as restantes famílias reais ainda em atividade, a japonesa não se livra de escândalos. Em 2021, num episódio semelhante ao protagonizado por Harry e Megan, duques de Sussex, a princesa Mako decidiu casar com um plebeu e rejeitou um pagamento oferecido a nobres que se afastem da família real. Os tabloides exploraram cada detalhe do caso.