“As nações constroem-se sobre aquilo que se lembra e o que esquece. E temos muito a perdoar uns aos outros.” Esta ideia de Kwame Anthony Appiah não é a negação da luta identitária. O filósofo inglês e norte-americano, eleito presidente da Academia Americana de Artes e Letras em janeiro de 2022, aclara: “Sempre me intrigaram as pessoas que dizem que devemos tentar viver sem identidade. Não vejo como poderíamos fazer política sem identidade, mas isso não significa que ache que toda a narrativa de identidade na política faça sentido”. Em entrevista ao Expresso, o professor catedrático de Filosofia e Direito na Universidade de Nova Iorque, que escreveu mais de uma dezena de livros, discorre sobre como pensar a política sem identidade é uma ilusão perigosa, afirma que as tradições podem ser progressistas e explica por que razão os populismos distorcem a ideia de povo. Criado maioritariamente no Gana, terra natal do seu pai, e formado na Universidade de Cambridge, na terra natal da sua mãe (o casamento dos pais, em 1953, foi amplamente noticiado pela imprensa internacional por ter sido uma das primeiras uniões “inter-raciais da sociedade” britânica), Kwame Anthony Appiah goza há décadas da reputação de um dos pensadores mais importantes do mundo. “É um erro, creio, pensar no apelo à tradição como algo conservador ou reacionário; o apelo à tradição pode ser muito progressista”, diz, nesta entrevista.