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Internacional

Um churrasco em Chattanooga: a minha introdução à América profunda

Crónica de Ricardo Costa, diretor de informação da SIC, a partir dos EUA onde acompanha as eleições presidenciais. Um regresso a uma viagem marcante feita em 2004, altura em que a disputa eleitoral se fazia entre George W. Bush e John Kerry, em busca das raízes do trumpismo. Ou porque é que uma das perguntas tradicionais da política americana é: com que candidato gostaria de beber uma cerveja?

Apoiantes assistem a um comício de Trump no sábado, 12 de outubro, em Coachella, Califórnia
The Washington Post

Não deve haver ninguém que aponte uma cidade do Tennessee como sendo o local indicado para se conhecer a América. Mas ainda hoje agradeço a quem organizou o programa do German Marshall Fund de 2004 ter-me enviado para Chattanooga com mais meia dúzia de europeus (jornalistas, diplomatas, políticos, e membros de ONG) naquele outono. Depois de uma semana intensa em Washington - e com paragens prometidas em Pittsburgh, Chicago, São Francisco e Nova Iorque -, o Tennessee era o último sítio onde nos apetecia ir parar.

Chattanooga era uma das cidades mais poluídas dos EUA, tinha uma indústria química ameaçada pela globalização, fortíssimos sinais de racismo e uma maioria profundamente conservadora. Eu e um colega grego ficámos a viver na vivenda de um casal culto e viajado, o que facilitou a estada mas não nos ensinou quase nada sobre a maioria sociológica daquela zona, com exceção das conversas com políticos locais e apoiantes fervorosos de George W. Bush, que tentava - poucos dias depois - a reeleição presidencial, contra John Kerry.