Internacional

Gomes Cravinho vai abordar com MNE britânico reagrupamento familiar e dificuldade de portugueses estudarem no Reino Unido

Ministro dos Negócios Estrangeiros reúne-se com o colega James Cleverly esta sexta-feira, em Londres. À margem da inauguração de uma peça de Joana Vasconcelos em Inglaterra, João Gomes Cravinho falou à imprensa sobre as relações bilaterais, a guerra na Ucrânia, a China e os conflitos laborais com o pessoal da embaixada portuguesa na capital britânica

João Gomes Cravinho em Waddesdon Manor (Inglaterra), perto da obra “Lafite”, de Joana Vasconcelos. O ministro inaugurou outra peça da mesma artista, “Bolo de Noiva”
Pedro Cordeiro

Portugal mantém um diálogo permanente com o Reino Unido para assegurar, entre outras coisas, que os portugueses que vivem em solo britânico tenham direito à reunificação familiar e para facilitar a deslocação de portugueses para estudar no Reino Unido, garantiu aos jornalistas o ministro dos Negócios Estrangeiros.

O governante prometeu abordar estes e outros assuntos numa reunião com o seu homólogo James Cleverly, esta sexta-feira de manhã.

Cravinho recordou que a aliança de 650 anos entre os dois países é a mais antiga do mundo e que a segunda mais antiga, a NATO, tem apenas 74 anos. Reconhecendo que a relação bilateral “sofreu alterações profundas” ao longo da História, nomeadamente nos campos económico, cultural ou humano, Cravinho — que falava após a inauguração de uma peça de Joana Vasconcelos —, apontou os “ciclos migratórios” e o ‘Brexit’ como causas de mudança no estatuto dos não-britânico que moram no Reino Unido e frisou que as conversas com o Governo de Rishi Sunak têm permitido avanços em campos como a ciência ou os direitos laborais.

O ministro referiu-se ainda à carta que os funcionários da embaixada portuguesa em Londres entregaram ao Presidente da República, na qual denunciam “salários de miséria” num país com alto custo de vida. O Sindicato dos Trabalhadores Consulares, das Missões Diplomáticas e dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros (STCDE) acusa o Governo de não resolver o assunto, “embora a negociação para a revisão das tabelas salariais esteja a decorrer há mais de seis meses”.

O responsável pela pasta assegura que os contactos entre o Ministério e os trabalhadores “foram longe em matérias muito técnicas” e confia que “na próxima ronda negocial ou na seguinte se chegue a bom porto”, não só no tocante à capital do Reino Unido como a todo o mundo. Os funcionários queixam-se de “11 anos sem aumentos [desde 2009], tendo só tido uma atualização de 0,3% em 2020 e 0,9% em 2022, face a uma inflação acumulada de 40%”, lê-se no manifesto.

“Portugal paga mensalmente o que outros pagam semanalmente”, acusa o sindicato, destacando as “dificuldades financeiras” que obrigam os afetados a “inúmeros sacrifícios”, como viver em quartos alugados, o que considera “atentatório da dignidade de um trabalhador em funções públicas, ao serviço do Estado português”.

É preciso “que a Rússia sofra uma derrota estratégica”

Cravinho falou ainda de mudanças geopolíticas em curso, que a seu ver tornam necessário “reposicionarmo-nos face à invasão da Ucrânia pela Rússia e reforçar o flanco leste” da Aliança Atlântica. Sobre a contraofensiva ucraniana, Cravinho realça que “está na fase inicial e poderá durar meses”, em que o Ocidente deve manter o apoio ao país de Volodymyr Zelensky. “Infelizmente, temos de contemplar a possibilidade de o conflito entrar por 2024”, vaticinou. Em todo o caso, defende, é preciso “que a Rússia sofra uma derrota estratégica, pois tudo o que não for uma derrota estratégica para a Rússia é uma derrota estratégica para nós”.

Explicando que o fornecimento de material militar à Ucrânia por Portugal se tem feito através dos stocks, Cravinho afirmou que a indústria de Defesa lusa produz material eletrónico ou ótico, mais do que armamento. Acredita que o acordo com a Rússia para exportação de cereais, que caduca em julho, venha a ser renovado, parecendo-lhe “razoável prolongá-lo não só por dois meses”. Para tal, há trabalho com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e “outras instâncias”.

Comentando a recente reeleição de Recep Tayyip Erdogan como Presidente da Turquia, Cravinho assegurou não crer que isso aproxime este país, membro da NATO, da Rússia de Vladimir Putin. “Historicamente há uma tensão grande entre a Turquia, ou o Império Otomano que a antecedeu, e a Rússia, por razões geoestratégicas”, recordou, para exprimir em seguida confiança na adesão da Suécia à Aliança Atlântica já na cimeira de julho em Vílnius, Lituânia.

Inquirido sobre a China, a exclusão da Huawei das redes 5G e a supressão de liberdades em Macau — dossiê em que há menos críticas públicas portuguesas do que as britânicas à repressão do esforço pró-democracia em Hong Kong —, Cravinho defendeu uma “relação antiga” com a China, “parceira em muitas matérias”, mas garantiu que a questão das redes não é negociável, ainda que Pequim ameace com represálias. E anunciou pretender ir à China no final deste não ou no começo de 2024.

Sobre Macau, explicou que o “diálogo entre Portugal e a China é muito diferente do do Reino Unido relativamente a Hong Kong”. Lembrando recentes deslocações a Lisboa do vice-presidente chinês, Han Zheng, e do chefe do Executivo macaense, Ho Iat Seng, o ministro diz-se “satisfeito” com a relação, “o que não quer dizer que estejamos satisfeitos com tudo”.