Yulia Tymoshenko foi figura de destaque na Revolução Laranja de 2004 e primeira-ministra da Ucrânia duas vezes – o mesmo número de vezes que foi detida, tendo sempre mantido que os motivos foram políticos. A última vez que saiu da prisão foi em 2014, na mesma altura em que o Parlamento ucraniano aprovou a destituição do então Presidente Viktor Ianukovich e marcou eleições antecipadas, o mesmo ano em que a Crimeia viria a ser anexada pela Rússia.
Vocal contra a invasão da Rússia, Tymoshenko veio a Portugal como oradora nas Conferências do Estoril e falou ao Expresso sobre as “ambições da Idade Média” que guiam as decisões do Presidente russo Vladimir Putin. Explicou porque acredita que um acordo de paz não é aceitável e falou da necessidade de sanções mais pesadas.
Foi apelidada de “princesa do gás” no final dos anos 90, depois de se tornar uma das principais revendedoras de gás russo. Como olha para a dependência que a Europa criou do gás russo?
É verdade que até 1997 fui empresária, mas a partir de então, quando ganhei assento parlamentar, abdiquei de todos os meus negócios, porque a minha visão é que uma pessoa não pode ter dois corações: um de negócios e outro de política. Por isso, desde 1997 nunca estive [envolvida] em nenhum tipo de negócio e o meu marido não tem nenhum negócio na Ucrânia. Quanto à dependência energética da Europa do gás russo, é contra as regras e a sabedoria do mercado. A economia de mercado é gerida sobre os pilares do Ocidente. Há monopólio? Então é dependência que pode ser manipulada e instrumentalizada, e depois os preços deixam de ser preços de mercado, são estabelecidos politicamente.
A alternativa é o mercado e um sistema saudável, da vida normal.