Internacional

UNESCO e Associação Mundial de Editores apelam aos governos para facilitarem saída de jornalistas do Afeganistão

Principais prioridades passam pela atribuição de vistos e por garantir travessias seguras a todos aqueles que querem deixar o país com as suas famílias. Financiamento e donativos também são essenciais, abrindo-se corredores para a entrada de dinheiro no país, destinados a apoiar quem quer partir e quem quer ficar

Talibãs no centro de Cabul, a capital do Afeganistão
HOSHANG HASHIMI / AFP / GETTY IMAGES

A UNESCO e a Associação Mundial de Editores (WAN IFRA, na sigla inglesa) enviaram um comunicado aos responsáveis das duas organizações para que pressionem os governos dos seus países a facilitar a atribuição de vistos a todos os jornalistas que querem deixar o país.

“Parece que a melhor forma de ajudar é todos vocês pressionarem urgentemente o vosso governo e fazerem ativismo nos países da região (Paquistão, Índia), para que atribuam vistos àqueles que querem sair e coloquem pressão política para ajudá-los a partir”, escreve em comunicado Vincent Peyrègne, presidente executivo da WAN IFRA. “Dinheiro e donativos são também necessários para obter e financiar escoltas até ao aeroporto e apoiar os que querem ficar no país.”

Segundo o responsável, alguns conselheiros de segurança em Cabul dizem ter acordos com os talibã para levar pessoas ao aeroporto, mas sem garantias.

Assim, as principais prioridades neste momento passam por ajudar – com a atribuição de vistos, a garantia de uma travessia segura, o destacamento de forças de segurança no aeroporto – aqueles que estão em risco e querem deixar o país com as suas famílias. E ainda pelo financiamento, abrindo-se corredores para garantir a entrada de dinheiro no país, reorientando-se as linhas de financiamento para o desenvolvimento e facilitando o fundo de emergência para os jornalistas afegãos.

Diversas organizações de media de vários países estão a trabalhar para garantir a segurança das suas equipas no Afeganistão, depois dos talibãs terem assumido o controlo de Cabul, a capital. Os insurgentes têm ameaçado e perseguido várias pessoas, nomeadamente jornalistas.

Isto já tinha levado, na semana passada, a organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) a exigir à Casa Branca um plano especial para a retirada dos jornalistas afegãos (e defensores dos direitos humanos). A RSF considerava que os planos elaborados por outros países, sobretudo europeus, são em grande parte dificultados pela gestão do acesso aos aviões. “O nosso problema hoje não é obter vistos ou lugares nos aviões, é fazer com que essas pessoas tenham acesso aos aviões”, afirmava então o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire.

Também a Federação Internacional de Jornalistas declarava ter recebido “centenas de pedidos de ajuda” de profissionais de informação afegãos, na sua maioria mulheres, nos quais reinam o “pânico e o medo”.

A WAN IFRA, por sua vez, recorda que várias organizações de media estão a compilar as suas listas e a analisar casos de jornalistas em risco que necessitam de deixar o Afeganistão. “O número de casos é enorme”, escreve Peyrègne, realçando que compilar e partilhar uma lista única é “impossível”.

Mas garante que a associação vai fazer o melhor possível para ajudar na coordenação – apontando para o Journalists in Distress Group (JID), mecanismo de assistência a jornalistas e de resposta a crises que opera há mais de uma década, como a melhor organização para coordenar estes esforços. “Pedimos, por favor, às organizações noticiosas para partilharem as suas listas com o JID através [da aplicação de mensagens] Signal”, remata. “O desafio é enorme.”

Foi este mês que os talibãs conquistaram a capital do Afeganistão, como parte de uma ofensiva lançada em maio, altura em que as forças militares norte-americanas e da NATO começaram a sair do país. As forças internacionais estavam no país desde 2001, altura em que os Estados Unidos lideraram uma ofensiva contra o regime extremista que acolhia o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001