As autoridades federais de saúde norte-americanas pretendem adjudicar um contrato ao Instituto Politécnico Rensselaer para investigar se existe uma ligação entre a vacinação e o autismo, segundo um aviso da administração liderada por Donald Trump.
O instituto de Troy, Nova Iorque, vai receber o contrato sem concurso devido à sua "capacidade única" de ligar dados sobre crianças e mães, de acordo com o aviso publicado esta semana e citado pela agência Associated Press (AP).
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos não respondeu imediatamente a perguntas sobre o aviso, incluindo o valor do contrato ou o que os investigadores pretendem fazer exatamente.
O secretário da Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., uma voz de destaque no movimento antivacinas antes de o Presidente Donald Trump o ter selecionado para supervisionar as agências federais de saúde, anunciou em abril um "esforço massivo de testes e investigação" para determinar a causa do autismo até este mês. Kennedy Jr. tem tentado repetidamente ligar as vacinas a esta condição.
Um professor de engenharia biotecnológica do Instituto Politécnico Rensselaer (RPI, na sigla em inglês), Juergen Hahn, utilizou técnicas de inteligência artificial (IA) e 'machine learning' para procurar padrões em amostras de sangue de crianças com autismo.
Hahn "é de renome pela qualidade e rigor da sua investigação", destacaram os responsáveis do RPI num comunicado reconhecendo a concessão pretendida. "Se este projeto for premiado, pretende publicar os resultados do seu trabalho no final do projeto", pode ler-se.
Para Alycia Halladay, que supervisiona as atividades de investigação e as concessões de bolsas para a Autism Science Foundation, este projeto levanta muitas questões.
O RPI não é conhecido na área por ter qualquer acesso especial a dados sobre este tipo de questões e "não seria a escolha óbvia", sublinhou Halladay.
Também não está claro como é que o contrato se encaixa noutras investigações sobre o autismo que o Governo possa estar a planear, apontou ainda. Mas talvez a maior questão seja por que razão o dinheiro está a ser gasto num estudo deste tipo, acrescentou.
Os cientistas descartaram uma ligação entre as vacinas e o autismo, não encontrando evidências de um aumento das taxas de autismo entre os vacinados em comparação com os que não o foram.
"A questão tem vindo a ser estudada há 20 anos, várias vezes por investigadores de todo o mundo, utilizando milhões de pessoas, e nunca foi encontrada uma associação fiável entre as vacinas e o autismo", lembrou Halladay.
Cientistas que passaram décadas a investigar o autismo não encontraram uma causa única. A genética desempenha um papel, e outros fatores incluem a idade do pai da criança, o peso da mãe e se esta tinha diabetes ou se foi exposta a determinados produtos químicos.
Há meses que os funcionários do Departamento de Saúde tentam utilizar os dados de segurança das vacinas compilados pelo Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) para procurar danos que possam estar ligados às vacinas.
Kennedy acusou os líderes do CDC de obstruírem estes esforços, mas o verdadeiro obstáculo tem sido outro, segundo um antigo funcionário federal de saúde ligado ao processo, que falou sob a condição de anonimato.
Cerca de uma dúzia de organizações de investigação médica recolhem os dados de segurança das vacinas e reportam-nos ao CDC. Contratos que remontam a quase duas décadas dão a estas entidades --- e não ao CDC --- o controlo sobre os dados, e o Departamento de Saúde ainda não conseguiu obtê-los, explicou o responsável.