“Graças a Deus que a gente tem o aliado mais poderoso do mundo”, disse Eduardo Bolsonaro no Instagram após a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por tentar um Golpe de Estado no Brasil depois de perder as eleições democráticas, em 2022. Na declaração, Eduardo refere-se a Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos que sancionou o país sul-americano para impedir o processo judicial contra o aliado de extrema-direita.
Recentemente, o Governo norte-americano demonstrou grande proximidade com o caso Bolsonaro, com o auxílio de Eduardo Bolsonaro e do influenciador Paulo Figueiredo, elos de ligação com membros do Partido Republicano para que Trump defina sanções contra o Brasil e contra os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) do país.
As ações dos Estados Unidos, contudo, não tiveram qualquer resultado no processo, uma vez que o ex-Presidente brasileiro foi julgado e condenado a 27 anos e três meses de prisão por liderar a organização criminosa que tentou acabar com o Estado democrático de direito no país. Outros sete réus também foram considerados culpados. Mesmo assim, a base bolsonarista continua a tentar garantir a liberdade de Bolsonaro através da pressão internacional.
No Instagram, Eduardo comparou as ações do Supremo Tribunal Federal com “Stalin, Hitler, Mao Tse Tung, Che Guevara e Fidel Castro”. “Acham que vão ter um caminho livre para fazer política, elas acham que o Alexandre de Moraes e o STF vão voltar para a casinha, vão voltar a ser guardiões da Constituição?”, escreveu. Segundo defende, a condenação do chamado “núcleo crucial do Golpe” seria ilegal e, por isso, o filho do ex-Presidente acredita que, com a ajuda de Trump, “a gente vai virar esse jogo, podem ter certeza”.
Ativo nas redes sociais, esta não foi a única publicação de Eduardo Bolsonaro sobre o caso. No X (antigo Twitter), o deputado brasileiro escreve com frequência em inglês para chegar ao público e às autoridades americanas. Após a condenação do ex-chefe de Estado, Eduardo separou duas passagens das longas falas de Alexandre de Moraes e Flávio Dino para expor à audiência norte-americana.
Primeiro, sobre Moraes, sublinhou um suposto “desafio” feito pelo relator do caso: “O descarado Moraes chegou a desafiar a administração Trump”, escreveu. No vídeo, legendado em inglês, o juiz explica que a Justiça brasileira “reafirma com o término do julgamento do mérito desta ação penal o seu compromisso com a independência e imparcialidade do poder judiciário, independentemente de ameaças, de sanções”.
Esta sexta-feira, foi a vez de Flávio Dino. Na declaração, o juiz enviou um recado ao Congresso brasileiro que pressiona por uma amnistia aos réus condenados sob a premissa de que isso seria necessário para pacificar o país, e disse que nos Estados Unidos houve perdão - no caso dos invasores do Capitólio -, mas não há paz. “Um jovem [Charlie Kirk] que é de uma posição política aparentemente do lado do atual presidente dos EUA, mas pouco importa, levou um tiro”, disse, ressaltando que “o que define a paz que nós sempre devemos buscar não é a existência do esquecimento. Às vezes a paz se obtém pelo funcionamento adequado das instâncias repressivas do Estado”.
Para Eduardo Bolsonaro, porém, a mensagem do magistrado foi outra. Na publicação, o jurista é descrito como “ex-ministro da Justiça de Lula e por muito tempo político do Partido Comunista Brasileiro”. “Ele chega a dizer que vai alterar o seu voto para usar o caso Charlie Kirk para criticar os EUA. E concluiu: o que traz paz é o funcionamento do sistema repressivo das instituições, descartando a vontade popular e reduzindo a democracia a instituições fortes, quando na verdade esse é um argumento genuinamente fascista — o mesmo adjetivo que eles usam para rotular a direita no Brasil”, afirmou o filho do ex-Presidente.
Eduardo quer mais sanções e admite guerra, EUA também
Logo após a confirmação da condenação de Jair Bolsonaro, Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA, foi ao X (antigo Twitter) para descrever o caso como “perseguições políticas do violador de direitos humanos Alexandre de Moraes” contra o ex-Presidente. “Os Estados Unidos responderão de forma adequada a essa caça às bruxas”.
Alegando que o ex-chefe de Estado não deveria ser julgado, Donald Trump chegou a anunciar tarifas de 50% sobre todas as exportações brasileiras. Posteriormente, o Governo americano deu um passo atrás e definiu uma lista reduzida de mercadorias que teriam taxação adicional, sem os principais produtos que são comercializados entre os países, como sumo de laranja e petróleo.
Agora, Eduardo Bolsonaro, em declarações à Reuters, entende que haverá “uma resposta firme” dos Estados Unidos, ameaçando os juízes do Supremo Tribunal Federal. “Se esses juízes continuarem seguindo Moraes, eles também correm o risco de enfrentar a mesma sanção”.
Alexandre de Moraes foi sancionado através da Lei Magnitsky, que é destinada a violadores dos direitos humanos. Por isso, o juiz não pode entrar nos Estados Unidos ou ter qualquer relação comercial com o país. A decisão do Governo Trump de utilizar esta legislação, contudo, gerou críticas. “As sanções impostas ao juiz não têm nada a ver com violação de direitos humanos e têm tudo a ver com acerto de contas político”, analisou William Browder, um dos responsáveis pela aprovação da lei, no programa televisivo Fantástico, da Rede Globo.
Donald Trump também se manifestou após o resultado do julgamento. O Presidente, assim como outros, chamou a situação de “caça às bruxas” e entende que “é muito surpreendente que isto tenha acontecido. É muito semelhante ao que tentaram fazer comigo”. Além disso, elogiou Bolsonaro, aliado na extrema-direita sul-americana , que considera “um bom homem”.
Os Estados Unidos admitiram mesmo a possibilidade de uma ação militar no Brasil. Questionada no início da semana sobre novas sanções ao país devido à condenação de Bolsonaro, Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, disse que “o presidente [dos EUA, Donald Trump] não tem medo de usar meios económicos nem militares para proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo".
A declaração foi repudiada pelo Governo brasileiro, mas não por Eduardo Bolsonaro. O filho do ex-Presidente disse ao website brasileiro Metrópoles que “se o regime brasileiro for consolidado e tiver uma evolução igual à da Venezuela” será necessária a “vinda de caças F-35 e de navios de guerra”. Sendo assim, deixou claro que seria favorável à investida militar americana no país. “Eu acho que vale a pena pela pauta da liberdade. Você aceitaria ser escravo para evitar uma guerra? Eu prefiro a guerra”.
Aliados criticam condenação de Bolsonaro: "Justiça ou inquisição?"
Diferentes aliados de Jair Bolsonaro criticaram publicamente a condenação. Além de Eduardo Bolsonaro, Paulo Figueiredo, que também está nos Estados Unidos em busca de sanções ao Brasil, disse que “agora querem matar Bolsonaro nesta suprema perseguição, mas não vamos nos render”. O neto do ex-ditador brasileiro João Figueiredo também ironizou os brasileiros afetados pelas ações de Trump contra o país. “Eu só não quero ver ninguém choramingando depois ‘Buá buá, tarifas, culpa do Eduardo Bolsonaro e do Paulo Figueiredo’. Vão choramingar lá em frente ao STF. Ou melhor, não pode mais nem fazer isso que mandam tirar vocês de lá. Então, chorem na cama que é lugar quente”.
Outra figura que foi às redes sociais lamentar a condenação do ex-Presidente é Tarcísio de Freitas, ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro e atual governador de São Paulo. “Bolsonaro e os demais estão a ser vítimas de uma sentença injusta e com penas desproporcionais”, afirma. “A história se encarregará de desmontar as narrativas e a justiça ainda prevalecerá. Força, Presidente. Seguiremos ao seu lado”.
Tarcísio é um dos principais aliados de Bolsonaro por procurar o apoio do líder da extrema-direita brasileira para uma possível campanha presidencial em 2026. O político é favorável à amnistia aos réus condenados e esteve presente nas manifestações bolsonaristas no dia 7 de setembro.
Damares Alves, senadora e ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, disse que a decisão é uma “vergonha” e considerou o julgamento uma “narrativa vingativa”, enquanto Romeu Zema, governador de Minas Gerais, questionou: “Justiça ou inquisição? A condenação de Bolsonaro pela Primeira Turma do STF acirra a divisão do país, e não é disso que precisamos”.
Texto escrito por João Sundfeld e editado por Mafalda Ganhão