Internacional

À força e “sem condições de segurança”: Bangladesh começou a deslocar famílias Rohingya para ilha deserta

Mais de mil pessoas da etnia Rohingya já foram levadas para a ilha de Bhashan Char. Bangladesh planeia mover 2.500 famílias, mas organizações não governamentais alertam que não estão garantidas as condições de habitabilidade na ilha

SUZAUDDIN RUBEL/Getty Images

Desde esta quarta-feira que as autoridades do Bangladesh já deslocaram mais de mil pessoas da etnia Rohingya de campos de refugiados próximos da fronteira com o Myanmar, levando-as para a ilha remota de Bhashan Char sem o seu consentimento. A informação foi avançada à agência de notícias AFP pela polícia local. O Bangladesh já tinha anunciado que pretendia deslocar um total de cerca de 2.500 famílias Rohingya.

Há ativistas e organizações não governamentais preocupadas com a situação, nomeadamente quanto às condições de segurança durante a viagem e da própria ilha. “É essencial as autoridades do Bangladesh deixarem que as Nações Unidas e outros grupos ligados aos direitos humanos avaliem de forma independente as condições de habitabilidade de Bhashan Char antes que sejam tomados quaisquer passos no sentido de realocar lá as pessoas”, avisou Saad Hammadi, responsável da Amnistia Internacional no sul da Ásia.

“Nenhum plano de realocação, para Bhashan Char ou para qualquer outro sítio, pode ser iniciado sem o consentimento total e informado das pessoas envolvidas”, acrescentou. Em Kutupalong, o maior campo de refugiados do mundo, as pessoas estão preocupadas e a manterem-se junto às suas casas. As autoridades baniram todo o tipo de transportes dentro dos campos.

A ilha em questão formou-se há 20 anos na baía de Bengal graças a uma acumulação de lodo - está exposta a temperaturas extremas e fica bastante longe do continente, o que pode ser problemático em caso de emergência. As autoridades do Bangladesh aludiram à ideia pela primeira vez em 2015 e desde então que o início das deslocações era temido.

Aliás, já há 300 Rohingya a viver em Bhasan Char desde abril, depois de terem sido apanhados no mar, e têm surgido relatos de abusos sexuais por parte de guardas, lembra o jornal “The Guardian”. Em setembro, as autoridades levaram alguns líderes dos campos de refugiados (conhecidos como majhis) a visitarem a ilha. Mohammad Hanif, de 40 anos, foi um deles e disse estar “bastante satisfeito” com as condições que encontrou. “Tem casas melhores, mesquitas, escolas, mercados. E o governo prometeu que não haverá falta de apoio por parte das Nações Unidas e outras agências”, disse, garantindo que conseguiu convencer a mulher e os filhos a mudarem-se para lá.

No entanto, as Nações Unidas ainda não concordaram em trabalhar na ilha e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados comunicou esta quarta-feira que não esteve envolvido nas realocações e pressionou o Bangladesh a deixar que entidades independentes visitassem Bhasan Char.

Há três anos, mais de 700 mil rohingyas (de crença muçulmana) chegaram ao Bangladesh para fugir à repressão e ao genocídio perpetrado pelo governo de Myanmar. Segundo as Nações Unidas, pelo menos 10 mil rohingyas já foram assassinados e a Humans Rights Watch aponta que mais de 130 mil vivem atualmente em campos de concentração.