Beirute não estava (outra vez) em guerra. Mas parecia e o libanês Ahmad M. Yassine precisou de alguns segundos para perceber que a guerra não tinha voltado e entender o que lhe tinha acontecido - “não percebi de imediato se estava vivo ou não”, conta ao Expresso. Ihab Kraidly, também libanês, lembra-se igualmente dos belicismos de outrora mas “a explosão desta terça-feira foi 10 vezes maior que a do bombardeamento de depósitos de combustível por Israel em 2006”. José Cortez, português que tinha chegado à cidade há 24 horas, explica que depois de abrir os olhos “estava tudo destruído” - e enquanto os teve abertos aconteceu-lhe assim: “Vi a força do impacto a levantar tudo à minha frente, voei para aí um metro, quando abri os olhos estava tudo destruído, pessoas a gritar, imensos gritos”. O alemão Joachim Paul estava no supermercado e o que ouviu “é impossível de descrever”. “Caminhei quatro quilómetros sobre vidro”, descreve. O libanês Kareem Chehayeb revela que o som da explosão demorou 15 minutos a chegar-lhe, sim, esse tempo todo, diz ele - estava longe mas depois apercebeu-se: “Beirute está devastada”.
Passavam poucos minutos das 18h (16h em Portugal continental) quando uma violenta explosão no porto de Beirute atingiu o centro e subúrbios da capital libanesa. Explodiram 2750 toneladas de nitrato de amónio que estavam guardados num armazém sem condições de segurança há pelo menos seis anos. Parecia guerra, não era, mas foi mortal, devastador como a guerra: pelo menos 135 mortos e 5000 feridos, vários desaparecidos, mais de 250 mil desalojados.
Os depoimentos recolhidos pelo Expresso, e todos os que circulam mundo fora, são inquietantes - ainda mais para quem esteve no local e depois reviu mais tarde em imagens o que aconteceu: “Só vi o vídeo há pouco, antes de falar contigo, é impressionante”, disse ao Expresso José Cortez - ele que foi atirado ao chão pela força da explosão e que viu em casa como tinha acontecido, ele que pensou tratar-se de uma bomba. Porque só a guerra costuma ser assim.