"Precisamente no mesmo local onde anunciou a candidatura, vai anunciar a desistência - à porta de casa", disse ao Expresso uma membro da campanha de Elizabeth Warren, agora ex-candidata à nomeação democrata para a corrida à Casa Branca. “Sei que quando começamos isto, esta chamada não era o que nenhum de vocês queria ouvir e não era uma chamada que eu quisesse fazer”, disse Warren num telefonema para a sua equipa, segundo o “New York Times”. O Expresso sabe que Warren falou demoradamente com Joe Biden, e Sanders também terá falado com a senadora. O apoio de Warren é bastante disputado entre o ex-vice-Presidente de Obama e o senador pelo Vermont mas ainda não é certo quem irá Warren apoiar.
Outrora um dos nomes favoritos à nomeação democrata para a grande batalha que o partido tem marcada com Donald Trump para 3 de novembro deste ano, a senadora pelo estado de Massachusetts vai desistir da corrida depois de ter falhado em despertar quer a euforia de Bernie Sanders, senador pelo Vermont e estrela da esquerda anticapitalista, quer a sobriedade centrista de Joe Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama que tem conseguido reunir em si os apoios de quem considera Sanders demasiado socialista para conquistar a América.
Warren é ideologicamente mais próxima de Sanders do que é de Biden e não podemos esquecer que foi o ataque sustentado da senadora ao multimilionário Michael Bloomberg que o tornou também um candidato inviável. Desistiu na quarta-feira a favor de Biden, tal como já o tinham feito Pete Butigieg e Amy Klobuchar, dois nomes que temem que Sanders possa alienar alguns democratas mais moderados e também os republicanos mais moderados, que possam estar fartos de ou chocados com Trump.
Não foi uma implosão, Warren não tem erros gravíssimos na campanha, gafes indesculpáveis ou ofensas contra um determinado grupo de pessoas como Hillary Clinton teve - quem não se lembra do rótulo de ‘deploráveis’ que ela colou aos apoiantes de Trump quando pensava que estava tudo ganho? -, foi antes um declínio constante mas lento. Investiu bastante nos primeiros quatro estados a votar nas primárias, de forma a criar o tal “momentum” que a projetasse para futuras lutas e eliminasse da cabeça de alguns apoiantes o medo de que ela não fosse uma aposta tão forte quanto Sanders, mas não foi suficiente: ficou em terceiro lugar no Iowa, em quarto no New Hampshire e no Nevada e em quinto na Carolina do Sul. Na chamada “super terça-feira”, o dia em que 14 estados e um território escolhem o seu nomeado democrata (e o republicano também mas nem há notícias sobre isso tão incontestado concorre Trump), ficou em terceiro lugar no seu estado, Massachusetts, e continuar tornou-se impossível.
Sempre foi a voz mais anti-Wall Street do espectro político considerado "mainstream", o megafone dos que, durante a grande crise de 2008, “ocuparam” o centro financeiro de Nova Iorque, Londres, Madrid. Não se afastou desse objetivo e todo o seu trabalho académico, robusto e alvo de pouquíssimas críticas até pelos seus opositores, foi construído para tentar de alguma forma limitar o poder das instituições de crédito e dos grandes bancos e dos seus produtos financeiros opacos. Com Obama, conseguiu um dos seus maiores objetivos profissionais: a criação da Agência de Proteção Financeira do Consumidor, um departamento que recebia as queixas das pessoas que se sentiam defraudadas por grandes empresas e as ajudava a estruturar uma defesa judicial.
Nos últimos dias, os seus discursos tinha-se tornado uma súplica contra o voto útil, que neste caso é um voto por alguém mais ao centro, Joe Biden: “Escolham alguém que vos faça sentirem-se orgulhosos do vosso voto. Votem com o coração. Votem na pessoa que consideram que será um melhor presidente dos Estados Unidos”, disse na terça-feira, em Detroit.