Minutos depois de a Câmara dos Representantes ter votado favoravelmente a destituição do Presidente Donald Trump, a speaker da câmara baixa do Congresso americano, Nancy Pelosi, recusou-se a dizer quando ou se enviaria os dois artigos de ‘impeachment’ para o julgamento no Senado.
Trump é acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso num processo que deu esta quarta-feira um passo decisivo, com a aprovação nos Representantes, onde os democratas detêm a maioria, das duas acusações formais.
Após a votação, Pelosi elogiou os democratas pela sua “coragem moral” e assinalou aquele como “um grande dia para a Constituição dos EUA”. No entanto, a líder democrata não especificou quando enviaria os artigos para o Senado, a câmara alta controlada por republicanos, onde decorrerá o julgamento político do caso.
“Até agora, não vimos nada que nos pareça justo”
Segundo Pelosi, os democratas não podem nomear os procuradores que defenderão a condenação e destituição de Trump do cargo sem antes saberem mais sobre o modo como o Senado conduzirá o julgamento. “Não podemos designar responsáveis até vermos qual será o processo no Senado. E espero que seja em breve. Até agora, não vimos nada que nos pareça justo. Quando virmos como será, enviaremos os nossos responsáveis”, esclareceu.
No início da semana, o líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, rejeitou uma proposta do líder da minoria, o democrata Chuck Schumer, para chamar quatro testemunhas. Schumer solicitou formalmente os depoimentos do chefe de gabinete em exercício da Casa Branca, Mick Mulvaney, e do assessor Robert Blair, do antigo conselheiro de segurança nacional John Bolton e do responsável do Orçamento Michael Duffey.
“Eu não sou um jurado imparcial”
Ao rejeitar a proposta, McConnell, que está coordenado com a Casa Branca, declarou: “Eu não sou um jurado imparcial.” Pelosi não gostou do que ouviu. O líder da maioria “diz que é OK o primeiro jurado estar em conluio com os advogados do acusado. Isso não nos parece certo”, referiu.
Questionada sobre se poderia garantir que os artigos serão enviados para o Senado, a presidente da Câmara dos Representantes respondeu: “É essa a nossa intenção. Mas veremos o que o Senado decide. Não vamos ter esta discussão. Fizemos o que nos propusemos fazer.”
Pelosi encontra-se esta quinta-feira com Schumer, segundo uma fonte ligada ao processo, que falou à Associated Press sob a condição de anonimato.
Como decorreu a votação?
Com a votação desta quarta-feira, Trump tornou-se o terceiro Presidente dos EUA a ser alvo de ‘impeachment’. Os democratas consideram que o Presidente abusou do cargo que ocupa ao pedir à Ucrânia para investigar o ex-vice-Presidente Joe Biden, um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata nas eleições do próximo ano em que Trump concorre à reeleição.
A acusação de obstrução baseia-se em parte nas diretivas da Casa Branca para que os seus funcionários não cooperassem com o inquérito à destituição presidencial.
Apenas dois democratas se opuseram ao artigo sobre abuso de poder. Os republicanos opuseram-se em bloco. O artigo passou com 230 votos favoráveis e 197 contra.
Na votação do segundo artigo, relativo à obstrução do Congresso, um terceiro democrata juntou-se aos republicanos na oposição. A votação terminou com 229 a favor e 198 contra.
E a seguir?
Ao chegar ao Senado, o ‘impeachment’ só resultaria na destituição de Trump se fosse votado favoravelmente por dois terços dos senadores. Até ao momento, nenhum senador republicano deu indicação de que votaria nesse sentido, pelo que, chumbado na câmara alta, o processo morreria e Trump continuaria no cargo, como, de resto, aconteceu com Bill Clinton.
O Presidente nega ter cometido quaisquer irregularidades e classificou o processo de ‘impeachment’ como “uma farsa”. Já os democratas acusam-no de ter colocado a Constituição americana em risco, comprometendo a segurança nacional e a integridade das eleições do próximo ano.