A comissão de Justiça da Câmara dos Representantes deverá aprovar esta quinta-feira o envio dos dois artigos de ‘impeachment’ contra o Presidente Donald Trump para votação por toda a câmara baixa do Congresso americano. Os artigos apresentados pelos democratas acusam formalmente Trump de abuso de poder e obstrução à justiça.
Esperam-se horas de debate sobre as emendas que os republicanos deverão apresentar. No entanto, não é expectável que os democratas, maioritários na Câmara dos Representantes, aceitem quaisquer propostas de alteração.
Segundo as acusações formais, Trump agiu “de forma corrupta” e “traiu a nação” ao pedir a uma potência estrangeira, a Ucrânia, para investigar os seus rivais políticos, incluindo Joe Biden, enquanto reteve ajuda militar norte-americana como contrapartida. As ações do Presidente corromperam o processo eleitoral dos EUA e beneficiaram a Rússia, ao atrasar a ajuda aos ucranianos, sublinham os democratas.
Em seguida, Trump obstruiu o trabalho do Congresso ao ordenar que atuais e antigos funcionários da Casa Branca desafiassem as intimações da Câmara dos Representantes para testemunharem e ao bloquear o acesso a documentos, referem as acusações.
O argumento do juízo da história dá para os dois lados
Na quarta-feira, o painel de 41 membros da comissão de Justiça discutiu durante mais de três horas e tanto democratas como republicanos apelaram ao sentido de história dos americanos.
O presidente da comissão, o democrata Jerry Nadler, inaugurou a sessão, justificando o processo de destituição presidencial e instando os republicanos a reconsiderarem a sua oposição. “Quanto o tempo dele passar, quando o seu controlo sobre a nossa política acabar, quando o nosso país regressar, como certamente acontecerá, a tempos mais calmos e lideranças mais fortes, a história olhará para trás e julgará as vossas ações aqui hoje. Como serão lembrados?”, questionou, citado pela agência Associated Press.
O republicano mais graduado do painel, Doug Collins, argumentou que os democratas estão a acusar o Presidente por considerarem que não podem vencê-lo nas eleições do próximo ano. Os democratas julgam que a única coisa de que precisam é “um anúncio publicitário de 32 segundos” a dizer que abriram um processo de ‘impeachment’ contra Trump, acrescentou. E rematou, dizendo: “Esse é o motivo errado para destituir alguém e o povo americano está a ver isso.”
A votação dos dois artigos de ‘impeachment’ por toda a Câmara dos Representantes deverá acontecer na próxima semana. O julgamento no Senado, a câmara alta, onde os republicanos são maioritários, só acontecerá em 2020.
De Nixon a Trump, há um nome a destacar: Zoe Lofgren
O ‘impeachment’ só resultaria na destituição de Trump se fosse votado favoravelmente por dois terços dos senadores. Até ao momento, nenhum senador republicano deu indicação de que votaria nesse sentido, pelo que, chumbado na câmara alta, o processo morreria e Trump continuaria no cargo, como, de resto, aconteceu com Bill Clinton.
Antes de Clinton, no final dos anos 1990, a última vez que se tinha iniciado um processo de ‘impeachment’ na política americana fora com Richard Nixon, que renunciou, ele próprio, ao cargo em 1974, antes de poder ser destituído.
A única integrante da comissão de Justiça que participou nos três processos de destituição presidencial da história moderna americana – de Nixon a Trump – foi a democrata Zoe Lofgren. Segundo escreveu esta quarta-feira o jornal “The New York Times”, Lofgren é uma figura próxima da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e apresenta-se como a memória institucional do partido sobre o ‘impeachment’. Para Lofgren, as duas acusações formais contra Trump representam um triunfo dos factos sobre as emoções.