A mensagem é clara. Já começa a ser tarde para reverter os efeitos das alterações climáticas e evitar uma grande tragédia. Num artigo publicado na revista “Nature”, uma equipa de investigadores explica, em forma de alerta, que vários dos piores cenários climáticos identificados há uma década pelos cientistas já estão a acontecer e que, por isso, o estado atual é de “emergência planetária”.
Entre esses pontos críticos, nove no total, estão as massas de gelo na Antárctida, no oeste e no leste do continente (em específico na bacia de Wilkes), “que tudo indica que estão a recuar de uma forma irreversível e cujo colapso resultará numa subida de vários metros do nível das águas do mar”, e as massas de Gelo na Gronelândia, que “estão a derreter a um ritmo muito acelerado”, alertam os autores do artigo. Também o gelo no Ártico está a “diminuir rapidamente, encontrando-se a camada de permafrost a derreter de forma irreversível e a libertar dióxido de carbono e metano”.
Mas há mais: a circulação global do oceano Atlântico, que desempenha um papel importante na regulação do clima global (o sistema de circulação envia água quente e salgada da Corrente do Golfo para o Atlântico Norte, onde liberta calor para a atmosfera e tempera o clima da Europa Ocidental) para o Atlântico está a diminuir — aliás, diminuiu 15% desde meados do século XX — e desde 1970 desapareceu 17% da floresta amazónica, segundo os cálculos dos investigadores que assinam o artigo divulgado.
Esse valor, explica-se no artigo, não está muito longe do definido como ponto a partir do qual se pode esperar uma situação de seca (entre 20% a 40%). Nas florestas temperadas, especialmente no América do Norte, o calor desencadeou mais fogos e surtos de pragas e nos trópicos deixará de haver recifes de coral caso a temperatura aumente dois graus.
“Há uma década, identificámos uma série de potenciais pontos críticos e vemos agora que mais de metade foram activados”, afirmou Tim Lenton, director do Instituto de Sistemas Globais da Universidade britânica de Exeter e um dos autores do artigo. “É possível que tenhamos já ultrapassado o patamar a partir do qual são esperados uma série de eventos que, combinados, podem levar a um efeito dominó com consequências catastróficas”, disse ainda o investigador, acrescentando: “De forma simples, isto significa que as crianças e adolescentes que têm estado tão empenhados nas greves pelo clima têm razão: estamos a assistir a uma série de mudanças potencialmente irreversíveis no clima”. Tim Lenton diz não querer “ser alarmista”, apenas “encarar as alterações climáticas como um problema de gestão de riscos”.
Outro investigador da mesma área, Phil Williamson, da Universidade de East Anglia, afirmou ao “Guardian” que o prognóstico da equipa de cientistas que assina o artigo “é, infelizmente, totalmente plausível”. “Podemos já ter perdido, de facto, o controlo do clima da terra”.