É muito pouco provável que a União Europeia demore muito mais a voltar a negociar com o Reino Unido caso a saída aconteça sem um acordo e sem que questões como os direitos dos cidadãos estejam definidos. E, sem isso, a incerteza política e económica em território britânico deve prolongar-se ainda por mais tempo, alerta o estudo “No deal Brexit: issues, impacts and implications”, divulgado pelo 'think tank' “The UK in a Changing Europe” esta terça-feira.
“De certa forma, os nossos resultados são inconclusivos. Não sabemos com grande certeza o que vai acontecer a curto prazo”, pode ler-se nas conclusões do estudo. “Mas bem mais importante, preocupa-nos não sabermos o que, em última instância, significa não ter um acordo.”
De acordo com o estudo, que sublinha todas as dificuldades já conhecidas e apresentadas por análises anteriormente publicadas, o facto de as negociações já não acontecerem ao abrigo do Artigo 50 “significa que será mais difícil, vai demorar mais e será potencialmente mais politizado (do lado da União Europeia)”.
Ao nível da segurança, por exemplo, os britânicos vão perder de imediato o acesso a sistemas de informação da Europol, enquanto o Cartão Europeu de Seguro de Doença perderá a utilidade para o os britânicos. “Olhando para o futuro, conseguimos identificar problemas reais na indústria automóvel, para empresas do sector espacial, para a saúde e também para os serviços financeiros. E enfatizamos ainda os problemas que uma saída sem acordo podem provocar na Irlanda do Norte”, sublinha o estudo.
Os investigadores lembram, ainda, que embora a questão económica seja “importante”, a narrativa política nos dias seguintes a um Brexit sem acordo são “cruciais”. “As perturbações logo no primeiro dia podem não ser tão perceptíveis como estudos anteriores previam. Empresas e governo vão ter que colocar em prática planos de contingência para se prepararem para os piores efeitos.
Ainda assim, o sistema financeiro não vai colapsar, o mercado não vai cair e as taxas de juro não vão disparar”, pode ler-se. “Mas muito continua incerto: como os consumidores se vão comportar, como os negócios vão reagir e quais as respostas políticas quer do Reino Unido quer da União Europeia. A recessão é altamente provável - mas a sua profundidade e gravidade são incertas.”