O Presidente dos EUA, Donald Trump, aprovou esta quinta-feira ataques militares contra o Irão em retaliação contra o abate de um drone americano, mas acabou por cancelar os planos abruptamente. Até às 19:00 de Washington (meia-noite em Lisboa), oficiais militares e diplomáticos aguardavam um ataque, após intensas discussões e debates na Casa Branca entre as principais autoridades de segurança nacional e líderes do Congresso.
O jornal “The New York Times” escreve que Trump tinha inicialmente aprovado ataques contra alvos iranianos, como radares e baterias antimíssil. A operação encontrava-se nos seus estágios iniciais quando foi cancelada, revelou uma fonte da Administração. Os aviões estavam no ar e os navios em posição, mas não tinha sido disparado qualquer míssil quando chegou a ordem de suspensão, acrescentou.
Não ficou claro se Trump simplesmente mudou de ideias ou se o cancelamento se ficou a dever a motivos de logística ou estratégia, refere ainda o “Times”. Questionados sobre os planos para um ataque e a decisão de os cancelar, nem a Casa Branca nem o Pentágono quiseram comentar.
Retaliação por abate de drone de vigilância não tripulado
O plano de retaliação seria uma resposta ao abate de um drone de vigilância não tripulado, no valor de 130 milhões de dólares (115 milhões de euros), que tinha sido atingido na manhã de quinta-feira por um míssil terra-ar iraniano, segundo um alto funcionário da Administração que falou sob a condição de anonimato.
O ataque terá sido planeado para acontecer pouco antes do amanhecer desta sexta-feira no Irão para minimizar os riscos para militares e civis, mas as autoridades foram notificadas pouco depois de que os planos tinham sido suspensos – pelo menos, temporariamente.
A possibilidade de retaliação dominou grande parte do dia. Responsáveis americanos e iranianos trocaram acusações sobre a localização do drone quando este foi destruído. Washington garante que o aparelho se encontrava em espaço aéreo internacional, enquanto Teerão afirma que foi abatido depois de entrar no espaço aéreo iraniano.
“Esta é uma situação perigosa”, avisa líder democrata
O Secretário de Estado, Mike Pompeo, o conselheiro de segurança nacional, John Bolton, e a diretora da CIA, Gina Haspel, eram favoráveis a uma resposta militar. Mas altos funcionários do Pentágono alertaram para a possibilidade de tal ação resultar numa escalada crescente, com riscos para as forças americanas na região.
Os congressistas democratas, que, à semelhança dos republicanos, foram chamados para receberem informações sobre os mais recentes desenvolvimentos, instaram o Presidente a procurar autorização militar do Congresso antes de adotar qualquer decisão militar. “Esta é uma situação perigosa”, disse a presidente da Câmara dos Representantes e líder dos democratas, Nancy Pelosi. “Estamos a lidar com um país com más intenções na região. Não temos ilusões sobre o Irão quanto a transferências de mísseis balísticos e sobre quem apoia na região”, referiu ainda.
O abate do drone agravou as já tensas relações entre os dois países depois de Trump ter recentemente acusado Teerão do ataque a dois petroleiros que navegavam no Estreito de Ormuz, uma passagem crucial para grande parte do petróleo consumido mundialmente. O Irão nega as acusações.
Teerão ameaça incumprir acordo, Washington aumenta presença militar
Entretanto, as autoridades iranianas anunciaram esta semana que até ao dia 27 ultrapassariam os limites de armazenamento de urânio definidos pelo acordo nuclear internacional de 2015, de que os EUA se retiraram unilateralmente no ano passado. O porta-voz da organização iraniana de energia atómica, Behrouz Kamalvandi, adiantou que a medida será revertida quando “as outras partes honrarem os seus compromissos”.
Após o anúncio do recomeço de enriquecimento de urânio para fins militares, a Administração norte-americana autorizou o envio de mais mil soldados para o Médio Oriente, ao mesmo tempo que reforçou a promessa de que nunca deixará que o Irão se torne um Estado nuclear.