O Presidente da China, Xi Jinping, referiu-se esta terça-feira, em Pequim, ao Movimento Quatro de Maio como um “grande movimento revolucionário patriótico”. Nas comemorações do centésimo aniversário daquele movimento estudantil, Xi apelou aos jovens chineses para que abraçassem o “espírito” do movimento e amassem a pátria.
A 4 de maio de 1919, milhares de estudantes manifestaram-se contra o resultado do Tratado de Versalhes, que selou a conferência de paz realizada na sequência da I Guerra Mundial, considerando-o uma humilhação para a China. Apesar de Pequim estar do lado dos vencedores, as potências ocidentais decidiram entregar a soberania da cidade de Qingdao, que estava nas mãos dos alemães desde 1898, ao Japão, que a tinha conquistado durante a guerra.
Os estudantes marchavam em protesto, enquanto livros e produtos japoneses eram empilhados e queimados nas ruas. Dois anos mais tarde, o Partido Comunista Chinês era fundado em Xangai. “O Movimento Quatro de Maio promoveu a propagação do marxismo na China e contribuiu para a união entre o marxismo e o movimento dos trabalhadores chineses”, resumiu Xi. No entanto, como lembra a CNN, a indignação dos estudantes de há um século também visava o próprio Governo por se ter mostrado incapaz de proteger os interesses da nação.
A juventude como “força de liderança” no rejuvenescimento da China
O reitor da Universidade de Pequim de então, Chen Duxiu, escreveu na sua revista “Xin Qingnian” (Nova Juventude) que apenas “a democracia e a ciência podem salvar a China do obscurantismo político, moral, académico e intelectual em que se encontra”. Chen cofundou o PC chinês, tornando-se o seu primeiro secretário-geral, mas em 1929 foi desacreditado e expulso do partido. No discurso desta terça-feira, Xi referiu a democracia e a ciência como componentes principais do Movimento Quatro de Maio, mas não mencionou Chen nem quaisquer apelos reformistas.
Apesar dos elogios de Xi à paixão, patriotismo e criatividade da juventude chinesa, classificando-a como “força de liderança” no rejuvenescimento nacional, nos últimos anos tem-se vivido um clima crescente de censura política e repressão nas universidades do país. Vários estudantes desapareceram desde junho do ano passado na sequência de manifestações pelos direitos dos trabalhadores.
O centésimo aniversário do Quatro de Maio acontece exatamente um mês antes do trigésimo aniversário da repressão militar sobre os manifestantes pró-democracia, que se concentraram durante quase dois meses na Praça de Tiananmen. A contabilidade dos mortos varia entre as centenas e os milhares. Não há qualquer menção oficial ao massacre de 4 de junho de 1989 e o assunto é fortemente censurado na internet.