Pu Wenqing tem 85 anos e passou a maior parte dos últimos dois a escrever artigos sobre o seu filho, Huang Qi, um dissidente de longa data do regime chinês que aguarda julgamento na prisão há mais de dois anos. Agora, a avó Pu, como é conhecida pelos seus amigos, está em parte incerta, provavelmente presa. A história é contada pela correspondente em Pequim do jornal inglês “The Guardian”.
No dia 7 de dezembro, Pu apanhou um comboio na província de Sichuan, onde vive, para uma viagem de 10 horas até Pequim, onde tencionava apelar aos líderes chineses para que libertassem o seu filho, acusado de divulgar segredos de Estado, um delito vago frequentemente usado contra ativistas. No comboio, a polícia interrogou Pu e o seu companheiro de viagem várias vezes e revistou as malas. Quando chegaram a Pequim, foram seguidos e intercetados.
“Sete ou oito homens à paisana cercaram-nos e agarraram a avó Pu pelos braços. Ela foi empurrada para o chão. Eu gritava, pedindo às pessoas que passavam que nos ajudassem”, disse Wei Wenyuan, que acompanhou Pu a Pequim. Foram ambos levados para uma esquadra de polícia, onde os agentes acabaram por mandar Wei embora. “Essa foi a última vez que eu vi a avó Pu”, revelou Wei.
Um vídeo que mostra Pu no chão, aparentemente assustada, e rodeada de pessoas, incluindo polícias, está a circular na Internet.
Pu Fei, que trabalhou com Huang, foi informado pelas autoridades de Neijiang, em Sichuan, que a avó estava sob custódia policial e em segurança, sem que, no entanto, adiantassem o motivo para a detenção. O antigo colega de Huang acredita que a avó Pu se encontra em prisão domiciliária num local diferente da sua casa e não estará de boa saúde.
Huang provavelmente irá morrer na prisão, diz avó Pu
Reformada e a viver da sua pensão, a avó Pu tornou-se mais ativa na Internet nos últimos dois anos, após a mais recente prisão do seu filho. Huang já tinha sido detido em 2008, cumprindo três anos de prisão depois de se reunir com os pais de crianças que morreram no terramoto de Sichuan naquele ano — mortes que muitos acreditavam terem sido resultado das más condições das escolas, construídas pelo Governo de forma inadequada.
Em 1998, Huang fundou o site 64 Tianwang, originalmente para tentar localizar pessoas desaparecidas e que, mais tarde, se transformou num centro de monitorização de abusos dos direitos humanos.
Huang tem uma condição renal potencialmente fatal e provavelmente irá morrer na prisão, de acordo com a avó Pu. Os seus advogados dizem que lhe tem sido negado tratamento desde que foi preso e que Huang já foi espancado, é sujeito a constantes interrogatórios e forçado a permanecer de pé entre quatro e seis horas seguidas.