Internacional

Nova análise ao sangue ajuda a detetar oito tipos de cancro em fase precoce

“Estamos a ver, pela primeira vez, um potencial de teste sanguíneo que pode detetar vários tipos de cancros maus que, até agora, só eram diagnosticados muito tarde, quando surgiam os primeiros sintomas”

Luís Barra

Chama-se CancerSEEK e está a gerar renovado otimismo entre os cientistas que estudam as origens e as formas de combate ao cancro. Uma equipa da Universidade de Johns Hopkins anunciou esta semana os primeiros testes a uma nova análise universal ao sangue que ajuda a detetar oito tipos comuns da doença, graças às proteínas e mutações genéticas que são libertadas na corrente sanguínea pelos tumores.

Através do novo teste, os cientistas conseguem procurar mutações em 16 genes normalmente associadas à presença de um desses tipos de cancro e a oito proteínas regularmente libertadas no sangue por tumores malignos. A equipa que desenvolveu esta nova análise sanguínea testou-a em 1005 doentes oncológicos e conseguiu, em 70% dos casos, apurar a existência de cancros nos ovários, fígado, estômago, pâncreas, esófago, cólon, pulmão e mama antes de estes se espalharem.

A descoberta — apresentada esta semana na revista "Science" sob o título "'Biópsia líquida' promete deteção precoce do cancro" — está a ser classificada como "muito excitante" pelo potencial de salvar milhares de vidas todos os anos.

"Esta área da deteção precoce é muito importante e estes resultados são muito excitantes", diz Cristian Tomasetti, que integra a equipa da Faculdade de Medicina de Johns Hopkins, nos EUA, citado pela BBC. "Penso que isto pode vir a ter um enorme impacto na taxa de mortalidade por cancro."

"Estamos a ver, pela primeira vez, um potencial de teste sanguíneo que pode detetar vários tipos de cancros maus que, até agora, só eram diagnosticados muito tarde, quando surgiam os primeiros sintomas", acrescentou à ABC News Peter Gibbs, do Instituto Walter e Eliza em Melbourne, que também integra a equipa por trás da descoberta.

Gibbs diz que, com os riscos de cancro a aumentarem depois dos 50 anos, o teste pode provar-se importante para detetar cancros em pessoas mais velhas mas também em jovens cujo historial familiar os coloca na categoria de alto risco.

Quanto mais cedo um cancro é detetado, mais probabilidades há de ser tratado. Até agora, não havia forma de detetar cinco dos oito tipos de cancros investigados. O caso mais gritante é o cancro do pâncreas, que revela poucos sintomas e que, na maioria das vezes, é diagnosticado tarde demais, com quatro em cada cinco pacientes a morrerem no mesmo ano em que a doença é detetada.

Descobrir tumores quando ainda é possível removê-los em cirurgias faz "toda a diferença" no que toca a sobreviver à doença, defende Tomasetti. Depois do sucesso nos primeiros ensaios clínicos, os cientistas vão agora testar a nova análise ao sangue em 10 mil pessoas que não foram diagnosticadas com qualquer tipo de cancro.

Isto ajudará a apurar a real utilidade do teste sanguíneo como complemento de outros instrumentos de deteção da doença, como mamogramas no caso do cancro de mama e colonoscopias no caso de cancros colorectais.

"Isto tem um potencial massivo", defende à BBC Gerhardt Attard, que lidera uma equipa de investigadores desta área no Centro de Evolução e Cancro do Instituto de Investigação Oncológica de Londres. "Estou muitíssimo entusiasmado. Isto é o Santo Graal, um teste ao sangue que deteta cancros antes de outros exames como TACs e colonoscopias."

Com este avanço, acrescenta o especialista, "estamos mais perto" de usar testes de sangue para diagnosticar cancros em fases precoces "a par da tecnologia já existente". A grande questão agora prende-se com o custo deste teste, sublinha Gibbs. "Suspeito que ronda os mil dólares ou algo assim, mas tal como acontece com a maioria das tecnologias, as coisas vão ficando mais baratas ao longo do tempo, pelo que temos esperanças de que [o preço] baixe para poucas centenas de dólares."

Citado pela BBC, Paul Pharoah, professor de epidemiologia do cancro na Universidade de Cambridge, defende que é preciso mais investigação para apurar a verdadeira eficácia desta análise sanguínea. "Demonstrar que um teste consegue detetar cancros avançados não significa que esse mesmo teste venha a ser útil na deteção de cancros precoces, muito menos de cancros pré-sintomáticos."