Não é a primeira atriz a casar-se com um príncipe nem a estreia de uma divorciada no estrito e nobre circuito de uma família real. A Meghan Markle - a partir desta segunda-feira noiva oficial do filho mais novo de Carlos de Inglaterra - sobra, talvez, a moderna novidade de ser a primeira ex-autora de um blogue de ‘lifestyle’ a chegar a Buckingham Palace.
Não que essa seja a sua faceta mais conhecida. Como convém a qualquer noiva sob os holofotes dos paparazzi, Meghan, 36 anos, começa por cumprir nos requisitos da beleza e elegância. O que não significa que tenham sido esses os atributos a conquistar o príncipe Harry. Empenhada ativista na defesa da igualdade de género, é também enérgica quanto a assumir papéis na área da intervenção humanitária, circulando com igual à-vontade nas passadeiras vermelhas e nos campos de refugiados, como ela própria assume. “Os dois mundos coexistem, de facto”, já afirmou, “e para mim tem mesmo de ser assim”.
Por ser descendente de um pai branco, o diretor de fotografia Thomas Markle, e de uma mãe afro-americana, assistente social e instrutora de ioga, a atriz já passou pelo crivo das muito especializada imprensa cor-de-rosa, retratada em perfis em que a herança racial não deixou de ser sublinhada e não da forma mais abonatória. É uma questão a que a própria Meghan tem respondido ao longo da sua vida pública, assumindo que, ao invés dessa herança mista lhe trazer eventuais problemas de identificação ou dificuldade de convivência com ambas as culturas, resolveu “abraçá-las”, mantendo um pé em cada lado da vedação”, “orgulhosa por ser uma mulher forte”.
Nascida a 4 de agosto de 1981, cresceu em Los Angeles, mas vive atualmente em Toronto, no Canadá. Fez o ensino básico numa escola privada, de onde passou para um colégio católico só para raparigas, tendo-se graduado na Northwestern University School of Communication, em 2003. Só então se lançou numa carreira artística, chegando à televisão em diferentes séries. O seu nome tornar-se-ia mais conhecido como Rachel Zane na série Suits (a oitava série já não deve contar com ela) e como Amy Jessup em Fringe. Ao grande écrã chegou através de filmes como “ Remember Me”, “Horrible Bosses” e “Anti-Social”.
No perfil que lhe dedica a BBC, o segundo parágrafo faz questão de recordar que cresceu naquela que é conhecida como a “Beverly Hills negra”, onde o preço médio de uma casa ronda os 771 mil dólares (quase 650 mil euros).
Mas não será justo defini-la apenas como alguém privilegiada. Meghan Markle faz o género de arregaçar as mangas: “Nunca quis ser uma senhora que faz lançamentos mas uma mulher que trabalha”. Foi ela, por isso mesmo, a diretora do seu próprio website, o The Tig, que manteve durante três anos, abordando tópicos que passavam pela alimentação, beleza, moda e viagens, mas onde sempre houve lugar para se falar na força das mulheres, apresentando as que se destacavam como exemplos e inspiração.
Fechou-o em abril de 2017, já se cochichava que para preparar o noivado, mas ficou a influência conquistada pelos muito expressivos números de seguidores - 1,9 milhões no Instagram e 350 mil no Twitter. Uma massa importante para fazer ecoar as campanhas que adotou, em luta por uma melhor educação e por melhores cuidados médicos para as crianças em todo o mundo, por exemplo.
É de tal forma reconhecido esse seu papel - a defesa da igualdade de género já a levou ao palanque principal das Nações Unidas - que o seu casamento de dois anos tem sido quase nota de rodapé. Sabe-se o básico, que o ex-marido é produtor televisivo e foi o seu namorado ao longo de sete anos.
O Reino Unido já suspirará pela próxima primavera, altura que o casal escolheu para oficializar a relação. Virão as notícias sobre o vestido de noiva, as primeiras fotos das viagens do casal, os filhos (talvez) e, se o destino o permitir, escaparão às manchetes de um divórcio que nenhum súbdito desejará. Serão felizes, portanto, se não para sempre, pelo menos enquanto assim conseguirem manter-se.