A inteligência artificial (IA) está a redefinir a forma como trabalhamos, com estudos a preverem que proporcionará um aumento de 6,5 biliões de euros no PIB global anual durante a próxima década. No entanto, além das oportunidades sem precedentes de inovação e crescimento, existem também preocupações sobre os direitos dos trabalhadores e a segurança laboral.
Tudo isto levanta a questão de como aproveitar a IA para gerar benefícios, protegendo ao mesmo tempo a sociedade – incluindo os trabalhadores – dos seus efeitos potencialmente prejudiciais.
“A IA representa mudanças, mas não são necessariamente mudanças negativas”, afirmou Joost Korte, diretor-geral na DG do Emprego, dos Assuntos Sociais e da Inclusão da Comissão Europeia. Joost falou na segunda edição do Fórum Europeu do Emprego e dos Direitos Sociais, que aconteceu entre 16 e 17 de novembro em Bruxelas e online, sob o tema “IA e o mundo do trabalho.”
O Fórum reuniu um painel diversificado de 74 oradores e explorou o uso responsável da IA para garantir que os avanços tecnológicos não prejudiquem os direitos dos trabalhadores.
“No mundo do trabalho em rápida mudança, devemos sempre valorizar a inovação e o desempenho, mas também devemos continuar a proteger os trabalhadores com o enquadramento regulamentar adequado. Precisamos de prevenir práticas abusivas e garantir que o ser humano mantenha o controle da situação”, disse Korte.
Como moldar o futuro
Apesar do debate intenso sobre o impacto da IA na vida profissional, fazer previsões exatas continua a ser um desafio.
O Professor Christopher Pissarides, galardoado com o Nobel da Economia, sugeriu que se analisassem os potenciadores para uma integração bem-sucedida da IA no mundo do trabalho, argumentando que os países com pontuações elevadas em questões como o apoio social aos trabalhadores “podem usar a IA de forma benéfica para criar bons empregos e melhores vidas." Ao mesmo tempo, observou, “os EUA e a China estão muito à frente em termos de preparação para a IA, mas falham drásticamente no apoio social. Por tanto, eu não diria que eles criam bons empregos.”
A maioria dos oradores no Fórum concordou que esta incerteza realça uma clara necessidade de regulamentação governamental proativa da IA para proteger os trabalhadores à medida que a tecnologia avança.
A UE já é pioneira nos esforços para definir regras para o desenvolvimento e utilização da IA, de acordo com Thierry Breton, Comissário Europeu para o Mercado Interno. Em 2021, apresentou a proposta da Comissão para a Lei sobre a IA, a primeira legislação abrangente sobre a inteligência artificial do mundo.
“Definir regras claras não retarda a inovação. Pelo contrário, fornece orientações para o investimento. O nosso objetivo é garantir que os nossos valores sejam preservados e incluídos nesta revolução da IA», afirmou o comissário Breton.
Uma abordagem “centrada no ser humano”
É preciso uma abordagem similar quando se trata da utilização da IA no mundo do trabalho, e muitos participantes no Fórum Europeu do Emprego e dos Direitos Sociais defenderam uma abordagem “centrada no ser humano”, tanto para a inovação como para a regulamentação da IA.
“É preciso garantir que decisões impactantes continuem a ser tomadas por um ser humano”, disse Annette Bernhardt, Diretora do programa de Tecnologia e Trabalho do Centro de Trabalho da Universidade da Califórnia em Berkeley.
Também é fundamental que os trabalhadores tenham uma palavra a dizer sobre a forma como se podem gerir as mudanças nas suas funções. Esther Lynch, secretária-geral da Confederação Europeia de Sindicatos (CES), disse que manter os funcionários envolvidos e incluídos em novos processos é uma parte importante de aprender a trabalhar em conjunto com a IA. “Os trabalhadores querem participação e discussão sobre a mudança e acesso à formação. É preciso establecer estruturas para informá-los”, comentou.
A principal mensagem transmitida pelo Fórum foi clara: independentemente do avanço da tecnologia, os trabalhadores humanos continuam a ser a chave e devem ser os principais beneficiários do avanço tecnológico.
“Com as novas tecnologias como o ChatGPT, o trabalho pode ser mais eficiente, mais rápido, facilitado e simplificado”, afirmou Nicolas Schmit – Comissário Europeu para o Emprego e Direitos Sociais. “Mas também precisamos de garantir que os trabalhadores beneficiam de cada novo avanço. O maior desafio é estabelecer um sistema onde os ganhos obtidos com a IA sejam distribuídos de forma justa.”
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