Para Joana Pinto Santos, Diretora da Unidade de Negócio de Azure, da Microsoft Portugal, “os dados permitem conhecer melhor os clientes, os mercados, os concorrentes e os próprios processos internos. As empresas investem cada vez mais na gestão e análise dos dados, porque procuram melhores formas de criar valor para o negócio através desse conhecimento. É também, por isso, natural que soluções de Inteligência Artificial e o tão badalado ChatGPT da OpenAI suscitem tanta curiosidade pela possibilidade de inovação e criação de valor que aportam. Vemos por isso surgirem, em todas as indústrias, cada vez mais exemplos de digitalização, transformação e inovação com recurso a dados e cada vez mais os casos de uso”, disse ainda a responsável. Estes são visíveis em, por exemplo, duas das indústrias que maior impacto têm no dia a dia do cidadão: saúde e banca.
Na saúde, os dados são um recurso valioso que permitem melhorar a qualidade, a eficiência e a inovação dos serviços e produtos oferecidos aos pacientes. Focando no paciente, um melhor conhecimento do mesmo (do seu historial médico e contexto) permite, desde já, um atendimento mais personalizado, que juntamente com a capacidade de analisar e comparar exames em escala e de forma assistida com mecanismos de Inteligência Artificial (IA), agiliza a tomada de decisão clínica. Resultado? Diagnósticos mais rápidos e precisos, reduzindo o tempo e os custos dos tratamentos. Focando na gestão hospitalar e dos sistemas de saúde (públicos ou privados), a análise de dados de inventário e uso de equipamentos, assim como de pedidos de Meios Complementares Diagnóstico Terapêuticos (MCDTs) permite antecipar necessidades e traçar padrões entre unidades, que por sua vez permitem otimizar processos e controlar custos e recursos.
A transformação digital, assente em dados no seu core, é absolutamente essencial para fazer face aos principais desafios que afetam a indústria da saúde. Por um lado, devido à escassez de recursos (humanos e materiais) e por outro, devido à necessidade de inovar em terapêutica e processos que melhorem a qualidade, a segurança e a eficácia dos cuidados de saúde. Um dos exemplos dessa inovação alavancada por dados é a anonimização de grandes volumes de dados de saúde e a disponibilização dos mesmos para a comunidade científica.
Para Pedro Marques, Coordenador da Unidade Advanced Analytics & Intelligence dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) “é chegada a altura de colocarmos os dados ao serviço dos utentes, dos profissionais e da comunidade científica. Para isso, é urgente dotarmos os dados dispersos de maior qualidade, utilizando os standards de padronização de informação que existem na saúde. Um dos desígnios da transição digital da saúde, patente no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), é precisamente a criação de um Registo de Saúde Eletrónico Único, que englobe toda a informação do utente. Para que este projeto seja concluído com o sucesso ambicionado, temos também planeada a criação de um repositório de dados de saúde que, em linha com o que vem sendo estabelecido no European Health Data Space (EHDS), facilitará o acesso aos dados por parte da comunidade científica para que se fomentem novos ensaios clínicos, descoberta de novas moléculas, entre outras descobertas que potenciem/influenciem a forma como são prestados os cuidados de saúde.”
Mas se os dados são a solução, a baixa literacia ou a ausência de uma cultura organizacional orientada a dados é um dos grandes entraves, para o qual é preciso trabalhar no desenvolvimento de competências e capacidades. Um bom exemplo disso é o curso de formação em inteligência artificial e ciência de dados na saúde, fruto da parceria entre o Instituto Superior Técnico e o Hospital da Luz - Learning Health.
Segundo Jaime Machado, Diretor Adjunto de Sistemas e Tecnologias de Informação - Head of Data & Analytics na Luz Saúde, e Nuno Silva, Diretor Adjunto de Formação, Investigação e Inovação na Learning Health, “a tecnologia está a transformar a área da saúde a uma velocidade elevada, tornando-se fundamental que os profissionais clínicos adquiram conhecimentos em inteligência artificial com o intuito de se adaptarem a estas mesmas mudanças. O curso visa precisamente desenvolver competências em data science e machine learning para esta categoria de profissionais, oferecendo as bases de conhecimento necessárias que permitam a aprendizagem dos principais conceitos, potencialidades e limitações da inteligência artificial, bem como a integração eficaz destas técnicas na prática clínica do seu dia-a-dia e a sua participação ativa em iniciativas que promovam a inovação na área da saúde.”
Já na banca, assistimos ao aumento da digitalização, seja no meio de atendimento ao público, com cada vez maior adesão aos canais digitais como aplicações ou websites, seja na forma como esse atendimento é feito, via chatbots e assistentes virtuais, cuja maturidade se elevou exponencialmente com base nos recentes modelos de IA generativa disponibilizados no mercado. E se a maturidade das soluções aumentou, o mesmo aconteceu com a expectativa dos clientes, o que obriga a uma cada vez maior personalização dos serviços bancários, tendo por base os dados das necessidades, comportamentos e preferências dos clientes (sejam eles corporativos ou consumidores).
Um pouco por toda a banca vemos exemplos de inovação alavancada em dados, desde o lançamento de plataformas de dados abertas para developers (que permitem a terceiros desenvolver aplicações que possam interagir com os dados do banco), à análise de fraude em tempo real, passando pela melhoria e automatização de processos internos.
Segundo Marisa Martins, Head of Data na Unicre “um bom exemplo dessa inovação é a aposta que a Unicre está a fazer numa arquitectura de dados sólida, estruturada e bem documentada, permitindo à organização ter processos robustos que enriquecem os seus modelos de analítica avançada com maior precisão permitindo uma atuação mais atempada não só nos seus processos internos (ex: incumprimento, fraude, etc.) bem como na gestão da relação com os clientes, assegurando uma interação assertiva e eficaz”.
Olhando para os desafios, a indústria bancária é altamente regulada e cada vez mais escrutinada, o que obriga a uma elevada preocupação não só com temas de privacidade e segurança dos dados e das transações, mas também com temas de data governance.
Segundo Fernando Resina da Silva e Inês Antas de Barros, Sócios da firma de advogados Viera de Almeida, “a adoção de uma estratégia de data governance nas organizações é determinante, devendo não só acautelar o cumprimento das diversas obrigações legais, mas, também, potenciar a capacidade da organização de monetizar os dados. A definição de modelos de exploração e partilha de dados, que prevejam as diferentes responsabilidades e direitos, é crítica, em particular numa altura em que se dão importantes passos, a nível Europeu, para a criação de Espaços Europeus de Dados em diversos sectores, para lá da banca, como sendo o sector da saúde.”
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Artigo desenvolvido por elementos do CDO Council, um grupo de Executivos de 22 organizações nacionais que, a convite da Microsoft Portugal, junta especialistas em Dados – desde Segurança a Conformidade -, focados na partilha de melhores práticas e na criação de um corpo de trabalho que permita apoiar um universo mais alargado de empresas nas suas jornadas de transformação.