Barómetros

“Os empregos desaparecem quando os imigrantes se vão embora”

A afirmação é de Cátia Batista, professora catedrática na NOVA SBE, que participou no debate sobre os resultados do Barómetro da Imigração divulgado esta semana pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Peritos defendem revisão das políticas para melhorar a integração de quem chega ao país

Os resultados do Barómetro da Imigração são claros: a maioria dos portugueses reconhece a importância dos estrangeiros para a economia nacional, mas uma parte significativa continua a associar estes migrantes à criminalidade. “Mais de dois terços pensam que os imigrantes contribuem para a criminalidade e para a diminuição dos salários”, reforça o coordenador do estudo divulgado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), Rui Costa Lopes.

O investigador principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa foi um dos participantes no debate promovido pela SIC Notícias, esta quarta-feira, a propósito do Dia Internacional das Migrações. Estiveram ainda presentes Cátia Batista, diretora científica do NOVAFRICA, e Gonçalo Matias, presidente da FFMS, numa análise às principais conclusões.

São 51,1% os inquiridos que consideram mesmo que “o modo de ser dos imigrantes empobrece os nossos valores e tradições”, enquanto 54,2% das pessoas dizem que, sem estes trabalhadores, os portugueses teriam melhores salários. Esta perceção não podia estar mais longe da realidade, segundo Cátia Batista, que defende que se passa exatamente “o oposto”. “[Sem imigrantes] a economia fica menos próspera, menos dinâmica. Os empregos desaparecem quando os imigrantes se vão embora”, sublinha.

No debate participaram Cátia Batista (NOVAFRICA) via videochamada, Rui Costa Lopes (ICS ULisboa) e Gonçalo Matias (FFMS)
José Fonseca Fernandes

Conheça, abaixo, as principais conclusões deste debate.

Portugueses querem reforço da regulação

  • O barómetro aponta que 68% dos inquiridos consideram que Portugal tem uma política de imigração que facilita em demasia a entrada de estrangeiros no país, enquanto 75,8% acreditam que uma política de entrada regulada seria mais benéfica.
  • “É um alerta para que as entidades públicas e os responsáveis pela política pública têm de olhar. Portugal teve, nos últimos anos, dificuldades sérias com a política de imigração ou, melhor dizendo, com a falta dela”, aponta Gonçalo Matias. Para o especialista em migrações, é evidente que o país “precisa de imigrantes” não apenas pela questão demográfica, como também pelo impacto económico.
  • “Sectores como o turismo falam em números de 40 a 45 mil pessoas que são necessárias [para trabalhar]. Turismo e a agricultura colapsariam [sem imigrantes]”, acrescenta. Cátia Batista confirma e sugere seguir o exemplo do Luxemburgo, onde mais de metade da população é estrangeira e onde existe uma política ativa de integração.
  • “Esta política de imigração, de integração ativa, é muito importante para garantir que as pessoas estão integradas na economia, mas isto também se transmite à integração na sociedade”, assegura. A guetização de comunidades deve ser, defendem os peritos, evitada ao máximo para não repetir erros cometidos noutros países europeus.
  • Um dos dados mais relevantes deste barómetro prende-se com a forte oposição à imigração com origem no subcontinente indiano, com 50,8% dos inquiridos a defenderem uma redução do número de estrangeiros daquela região. Porém, lembram os participantes no debate, estas pessoas representam apenas 9% do total de imigrantes no país, ou seja, são cerca de 70 mil. “Este grupo é uma relativa novidade no país, o que quer dizer que também é mais desconhecido e o que é mais desconhecido gera atitudes mais negativas à partida”, considera Rui Costa Lopes.

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