Um estudo recente da Lisbon Public Law mostra abertura dos portugueses em relação à chegada de imigrantes e à sua regularização no país: mais de 80% dos inquiridos concorda que essa deve ser uma realidade para todos aqueles que descontam para a Segurança Social. Porém, apesar de considerar que “vai ser cada vez mais difícil” evitar, António Vitorino diz esperar que “haja um consenso alargado no espectro político de que a política de imigração não deve ser uma arma de combate”. “Não podemos cair nessa armadilha”, reforça o antigo presidente da Organização Internacional para as Migrações.
A importância da política migratória portuguesa e o seu papel na atração e fixação de talento foram tema central no oitavo debate do projeto “5 Décadas de Democracia”, emitido terça-feira na SIC Notícias com apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos. A reflexão contou ainda com a presença de Gonçalo Saraiva Matias, professor da Universidade Católica Portuguesa, Inês Urmal Fernandes, diretora de recrutamento da Aubay, e Pedro Góis, investigador e professor na Universidade de Coimbra.
Conheça as principais conclusões:
Portugal precisa de uma verdadeira política migratória de longo prazo
- Depois da grande vaga de emigração portuguesa das décadas de 60 e 70, o país passou a ser destino de imigração. Existem hoje mais de 800 mil estrangeiros com enquadramento legal no território nacional, o dobro do registado em 2015, mas os especialistas acreditam que será preciso continuar a acolher para compensar o declínio demográfico. “De acordo com o Censos, entre 2011 e 2021, Portugal perdeu 200 mil pessoas. As projeções apontam para um decréscimo populacional significativo nas próximas décadas”, sublinha o especialista em migrações Gonçalo Saraiva Matias;
- Os discursos inflamados na arena política sobre o perigo da imigração ajudam, analisa António Vitorino, a criar uma sensação de mal-estar no acolhimento de quem chega. “A perceção de que os imigrantes estão a substituir os portugueses nos postos de trabalho é completamente errada e destruída de fundamento”, critica;
- Pedro Góis reconhece que existem desafios trazidos por esta nova realidade, nomeadamente o investimento insuficiente do Estado “na língua, na habitação, na educação e na saúde” que permite garantir uma melhor integração dos imigrantes na sociedade;
- O desenho de uma política integrada e estruturada para as migrações deve inspirar-se, sugere Saraiva Matias, em exemplos como os da Nova Zelândia ou do Canadá, geografias onde existe uma seleção de trabalhadores estrangeiros à medida das necessidades do mercado laboral.
Mercado global de trabalho é oportunidade para a escassez de talento
- Além de envelhecido, o país tem falta de mão de obra para vários sectores da economia, dos menos aos mais qualificados. “Recrutamos muitas pessoas internacionalmente porque Portugal não é autossuficiente nas suas competências. Temos profissionais de excelência, mas temos uma fuga enorme de talento”, retrata Inês Urmal Fernandes;
- A especialista em recursos humanos diz que “falta competitividade em relação a outros mercados”, em especial pelo enquadramento fiscal e pelo excesso de burocracia. Para competir neste mercado global de talento, é preciso facilitar os processos administrativos e aplicar uma política migratória clara e sustentada no tempo;
- Pedro Góis propõe “pegar num país como a Irlanda e perceber o que fez para atrair força de trabalho”, de forma que Portugal seja capaz de reter o talento nacional e atrair trabalhadores internacionais adaptados às exigências da economia. “Temos de eleger o capital humano como uma prioridade absoluta para o país nas próximas décadas”, reforça Gonçalo Saraiva Matias.