A despesa pública com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) disparou 72% na última década, atingindo €15,6 mil milhões em 2024. Uma das maiores rubricas responsáveis pelo aumento do orçamento diz respeito a gastos com pessoal, em especial nos últimos dois anos – consequência direta, aponta-se, da valorização das carreiras. As conclusões são de um estudo encomendado pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP) ao ISEG e que será apresentado esta quarta-feira numa conferência em Lisboa.
“Já sabia que as despesas com pessoal eram a rubrica mais importante, mas fiquei surpreendido pela magnitude. Cresceram cerca de 88% em termos nominais e hoje representam 41,9% do total da despesa do SNS”, aponta José Zorro Mendes, coordenador do estudo. O professor do ISEG assinala, porém, que estes números não incluem a despesa com tarefeiros. “Se incluirmos tarefeiros, o peso sobe para 47,5%, muito próximo de metade do orçamento”.
O alerta é partilhado por Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, que lembra que “o orçamento da saúde é maior todos os anos e o próximo não deverá ser diferente”. Se tivermos em conta os gastos com trabalho suplementar, entre 2015 e 2024 o aumento foi de 82,2%, equivalente a 11 mil profissionais adicionais.
47,5%
é a percentagem do orçamento anual da saúde destinada a despesas com pessoal no SNS, incluindo tarefeiros
A pressão não resulta apenas de salários, mas também de um aumento da atividade com maior resposta em consultas, cirurgias e internamentos. “A população portuguesa não só cresceu como está mais envelhecida. E sabemos que o envelhecimento traz mais doenças, muitas vezes em simultâneo, exigindo tratamentos mais longos e intensivos. Isso faz com que a despesa tenha de subir sempre, o problema é a velocidade a que cresce”, nota Zorro Mendes.
Se nada mudar, a fatura continuará a crescer, um cenário que “não é sustentável” a longo prazo. É preciso “reorganizar os serviços para aumentar a produtividade e abrir espaço a novas tecnologias”, nomeadamente a ferramentas de inteligência artificial. “Isso permitiria fazer mais com as pessoas que já estão no SNS, remunerando-as melhor e evitando a fuga para o setor privado”, defende Zorro Mendes.
O estudo destaca ainda o peso crescente dos medicamentos hospitalares, com particular incidência na oncologia, onde “se gasta hoje o dobro de há cinco anos devido ao efeito preço”, como refere Óscar Gaspar.
"A reorganização e a aposta em tecnologia são fundamentais. Isso pode ser a única solução que eu vejo para os custos com o pessoal não continuarem a crescer ao nível que estão a crescer", aponta José Zorro Mendes
Para Zorro Mendes, é evidente que a resposta passa por garantir uma nova forma de gerir o SNS, que “precisa de uma reorganização funcional” sem a qual manterá uma tendência para o aumento de despesa, caminhando para um cenário insustentável. Na conferência de quarta-feira – organizada pela CIP, ISEG e Expresso, como media partner -, a apresentação detalhada do estudo e consequente reflexão, num painel de debate com especialistas do sector, procurará traçar caminhos para superar alguns dos principais desafios identificados.
Consulte abaixo o programa completo.
Aumento da despesa no SNS | Análise de uma década de despesa pública
O que é?
A 1 de outubro, o Conselho de Saúde Prevenção e Bem-Estar da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, o ISEG e o Expresso, enquanto media partner, organizam a conferência "Aumento da despesa no SNS | Análise de uma década de despesa pública". Este evento terá por base as conclusões do estudo “A despesa pública portuguesa com o Serviço Nacional de Saúde (SNS): as causas do seu aumento”, elaborado pelo ISEG/CISEP (Centro de Investigação sobre a Economia Portuguesa do ISEG).
Quando, onde e a que horas?
O evento acontece na quarta-feira,1 de outubro, no Edifício Impresa, em Paço de Arcos., a partir das 09h30.
Quem são os oradores em destaque?
- Armindo Monteiro, presidente da CIP;
- Ana Povo, secretária de Estado da Saúde
- José Zorro Mendes, coordenador do estudo e presidente do Departamento de Economia do ISEG
- Oscar Gaspar, Associação Portuguesa de Hospitalização Privada
- Paulo Teixeira, APIFARMA
- Ema Paulino, Associação Nacional das Farmácias
- Roque da Cunha, médico
- João Almeida Lopes, Conselho da Saúde Prevenção e Bem-Estar da CIP
- Ana Paula Martins, ministra da Saúde
Porque é que este tema é central?
A despesa do SNS tem crescido ano após ano na última década, atingindo hoje cerca de 15 mil milhões de euros anuais. Porém, o sistema continua a enfrentar desafios ao nível da organização e da prestação de cuidados, levantando a questão: será preciso mais dinheiro para resolver os problemas do SNS ou uma reestruturação na gestão? O estudo apresentado ajudará a responder a esta e outras questões, mas também a orientar decisões futuras.
Como é que posso assistir?
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