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Paulo Portas: “A inovação” na agricultura “é o coração do futuro”

Esta foi uma das mensagens que Paulo Portas deixou no discurso que marcou o arranque do Lisbon Agri Conferences, iniciativa à qual preside, e que conta com o apoio do Expresso. Neste primeiro dia os holofotes estiveram virados para questões relacionadas com a inovação tecnológica, a produtividade e a sustentabilidade do sector agroalimentar do futuro, que se quer próspero e sustentável, numa sociedade onde a população não para de crescer

Daqui a menos de 30 anos haverá cerca de 2 mil milhões de pessoas a mais no planeta (7.7 mil milhões em 2020; 9.7 mil milhões em 2050), às quais a indústria agroalimentar terá que saber dar resposta. Além deste crescimento populacional, e dos desafios recentes que a pandemia impôs, entram na equação as tão amplamente faladas alterações climáticas - que afetam, por exemplo, a temperatura e a precipitação, dois fatores naturais essenciais para a produção agrícola - e que representam “questões complexas, que trazem dificuldades aos agricultores”, diz António Serrano, CEO da Jerónimo Martins Agro-alimentar.

3 mil milhões

de pessoas no planeta não têm acesso a uma alimentação saudável

A queda de produção que se adivinha, caso a agenda proposta pela Europa for levada ao extremo, e o consequente aumento de preços, aumento da inflação e da desigualdade no acesso a alimentos, poderão representar tendências difíceis de mitigar. Nesse sentido, a inovação e a tecnologia parecem ser as ferramentas certas, segundo os peritos, para dar resposta aos desafios identificados.

“Não temos um problema de falta de plataformas tecnológicas, precisamos sim de estar unidos para sabermos o que devemos fazer com elas”, sublinha António Serrano

Para Paulo Portas o sector agrícola nacional é hoje mais eficiente e tecnológico, mas a agricultura “tem que ter peso político” para que se possam mudar paradigmas. Segundo o ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, as pessoas não podem pensar que a agricultura estará na agenda “se não houver uma estratégia”.

Além do atual vice-Presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Portugal e de António Serrano, CEO da Jerónimo Martins Agro-alimentar, estiveram presentes os seguintes oradores: Robert Saik, CEO da AGvisorPRO, Kristian Moeller, diretor geral da GLOBAL G.A.P, Luis Mesquita Dias, presidente da AHSA, Julio Audicana Arcas, professor e associate Dean na San Telmo Business School e Gonçalo Castel-Branco, CEO do "The Presidential Train" / Vale do Douro.

Estas são as principais conclusões:

  • “Há um desajustamento económico entre a oferta e a procura, entre a capacidade de produção e a capacidade de entrega”, lembra Paulo Portas, concluindo que não desaparecerão a curto prazo.

  • Produtos alimentares personalizados para cada pessoa consoante as suas características e necessidades parece ser uma realidade cada vez mais próxima. Pelo menos é no que acredita Robert Saik: “Provavelmente, daqui a uns anos, todos estaremos a comer coisas indicadas para a nossa genética”, defende.

  • Os dados mostram que desde 2015 tem havido um incremento da eficiência do uso da água ( 9%), mas ainda há muito a fazer para garantir que não perdemos este recurso. “Não é fácil, é um desafio permanente”, admite António Serrano.

  • No que toca aos recursos humanos, a questão da habitação e alojamento temporário é o principal desafio, “basta olhar para o que se passa no Sudoeste alentejano”, diz Luís Mesquita Dias. Remuneração fixa, apoio psicológico e incentivos à natalidade são alguns dos métodos que podem ser implementados pela gestão de recursos humanos das empresas, segundo o especialista.

  • “A pandemia fez crescer algumas formas novas do produto circular e ser entregue ao consumidor, como é o caso do delivery”, diz Julio Audicana Arcas, colocando a tónica no facto de as pessoas terem experimentado estes métodos mais digitais e os terem mantido. "Qualquer empresa que queira crescer ou estabelecer-se tem que se auxiliar da tecnologia", conclui o perito.

  • “Temos que conseguir entender o consumidor para poder mudar seja o que for a nível macro”, lembra Gonçalo Castel-Branco. Aspetos emocionais como “a transparência, os valores, a narrativa, relação e fidelização” são fulcrais.

  • O uso da robótica e da tecnologia na agricultura deve ser pensado no momento em que idealizam as produções. Recorrer a robôs e a drones, por exemplo, só será possível se houver uma intenção prévia e uma estratégia pensada antecipadamente, explica Nolan Paul.

Clique AQUI para ver ou rever a sessão de hoje na íntegra.

Se pretende acompanhar o segundo e último dia do Lisbon Agri Conferences poderá fazê-lo AQUI ou através do Facebook do Expresso, a partir das 9h.

Tome nota da lista de oradores que irão estar presentes amanhã:

  • Joana Portugal Pereira, professora do Instituto Superior Técnico

  • Stuart Oda, co-fundador e CEO da Alesca Life

  • Vítor Espírito Santo, diretor de Agricultura Cellular na Eat Just

  • Sandra Tavares, fundadora e enóloga na Wine & Soul

  • António Casanova, EVP da Unilever; CEO da Unilever FIMA e CEO da Gallo WW

  • Luis Castro Henriques, presidente da AICEP Portugal Global

  • Assunção Cristas, professora da NOVA School of Law e ex-ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território

  • António Costa e Silva, professor do Instituto Técnico de Lisboa Lisboa (IST) e autor da Visão Estratégica para Portugal 2020-2030

  • Maria do Céu Antunes, Ministra da Agricultura