Projetos Expresso

Mais dados e mais investimento para construir a saúde inteligente

Projetos Expresso. A tecnologia na prestação de cuidados não é um cenário do futuro, mas há ainda desafios a endereçar. A “digitalização tem de começar por reunir num único sítio a informação sobre cada pessoa”, diz José Mendes Ribeiro. À sexta-feira, o ‘Mais Saúde, Mais Europa resume os temas-chave da semana numa iniciativa do Expresso com apoio da Apifarma

Investigação científica, prevenção e melhoria dos cuidados de saúde são algumas das vantagens da digitalização
José Fernandes

Francisco de Almeida Fernandes

Eficiência, melhoria dos cuidados e mais conhecimento são três dos maiores benefícios da digitalização na saúde, de acordo com os especialistas. Desde o registo de informações clínicas sobre os doentes, disponível em todo o território nacional e para todos os prestadores, à transformação digital das infraestruturas do sector, Portugal e a Europa têm muitos passos a dar até chegarem ao destino desejado: uma saúde inteligente. “Seria a grande oportunidade de criar interoperabilidade entre os sistemas, que deveriam ter um registo central”, explica José Mendes Ribeiro. Responsável pela Reforma Hospitalar de 2011 e autor do livro Saúde Digital, defende que “o registo de saúde eletrónico é o sistema nervoso de qualquer sistema de saúde”.

O Plano de Desenvolvimento da Saúde (PDS), desenhado pela associação Health Cluster Portugal, sugere precisamente a criação de “um grande repositório de informação que centralizará dados de saúde anonimizados”, como informações de diagnóstico, terapêutica, demografia ou até de pagamentos. Esta aposta, sublinha o documento, permitirá reforçar o desenvolvimento de produtos e serviços ligados aos cuidados de saúde através da análise destes dados. Ao nível da prevenção, seria possível atuar mais cedo e evitar a agudização de doenças ou mesmo o seu aparecimento, se os dados clínicos forem cruzados com informações relacionadas com a idade, profissão ou estilos de vida, por exemplo. “Com melhores dados em saúde conseguiremos conhecer melhor as necessidades das populações em saúde e trabalhar melhor para dar respostas a essas necessidades”, acredita a eurodeputada Sara Cerdas, que acompanha este sector no Parlamento Europeu.

“O registo de saúde eletrónico é o sistema nervoso de qualquer sistema de saúde”, aponta José Mendes Ribeiro

Com as fragilidades dos sistemas de saúde expostas pela pandemia, esta é uma das áreas prioritárias para a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, cuja atividade o ‘Mais Saúde, Mais Europa’ continua a acompanhar, em permanência, até julho. À sexta-feira, o projeto do Expresso com o apoio da Apifarma resume os temas-chave da semana.

Conheça os destaques:

Tecnologia e capacitação

  • “A nossa infraestrutura tecnológica, a nível do Sistema Nacional de Saúde, tem ainda muitos problemas e muitos aspetos em que pode melhorar”, afirma José Mendes Ribeiro. Para o economista, a aposta na utilização de uma cloud acessível a todos os centros de saúde, hospitais e outros prestadores (como centros de exames ou laboratórios) é fundamental para que todos os sistemas informáticos falem a mesma língua e sejam eficientes.
  • Contudo, será também essencial que os recursos humanos – médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e pessoal administrativo – recebam as competências digitais que lhes permitam tirar o máximo partido da digitalização do sector. “Não temos, neste momento, os profissionais de saúde todos preparados e no mesmo nível de competências digitais para usarem os sistemas”, diz Mendes Ribeiro.

€1383 milhões

é o valor de investimento no Serviço Nacional de Saúde previsto pelo Governo ao longo dos próximos anos. Deste montante, 300 milhões serão alocados à transformação digital da saúde com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência
  • A proteção das informações clínicas e pessoais dos doentes é, ainda, uma preocupação partilhada pelos especialistas. “Só a segurança na proteção dos dados sensíveis permitirá que o fluxo de dados opere com a confiança dos titulares”, adianta Marta Soares, diretora clínica do IPO do Porto, que realça a importância destes dados para a investigação.
  • A responsável aponta ainda o Plano de Recuperação e Resiliência como instrumento que pode ajudar a desenvolver a saúde digitalizada em Portugal através do investimento de 300 milhões de euros na transformação digital. “Esperamos poder utilizar estes fundos para melhorar o registo e o acesso a dados de saúde de qualidade" e aumentar "a nossa eficiência clínica e económica”, refere.