Imunização e inoculação são hoje termos comuns à maioria da população mundial, que ao longo dos últimos 16 meses foi assolada pela covid-19. Como nunca antes tinha acontecido, o desenvolvimento de uma vacina que permite garantir imunidade contra o novo coronavírus demorou menos de um ano, contra os sete a dez anos de tempo médio. “Compreendo que a rapidez com que pudemos ter vacinas disponíveis possa desencadear algum receio nas pessoas menos informadas sobre o processo de desenvolvimento e aprovação das vacinas. No entanto, esse receio não tem razão de ser”, garante ao Expresso Hélder Mota Filipe. O professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa lembra que esta conquista só foi possível graças à investigação que vinha sendo feita há vários anos. “Todas as etapas necessárias para o seu desenvolvimento e o grau de exigência foram os mesmos que se pedem a qualquer outra nova vacina na Europa”, aponta.
Na semana em que se celebra a importância desta arma terapêutica, o pneumologista Filipe Froes sublinha que os receios sentidos pelas pessoas em relação a potenciais efeitos secundários destes fármacos não são justificados. “Pudemos constatar a robustez, a precocidade e a fiabilidade dos sistemas de farmacovigilância”, refere. O especialista acredita que os mecanismos que controlam a eficácia e os riscos associados provaram “a sua importância na segurança de todos os medicamentos disponíveis e na tranquilização da população”. Já o professor da Faculdade de Farmácia admite considerar que a questão do equilíbrio entre os efeitos adversos das vacinas covid-19 e os seus benefícios “não têm sido claramente explicados”. “Não há um único medicamento que não tenha riscos. O que é fundamental é que conheçamos bem o potencial de desenvolvimento de efeitos adversos e garantir que o benefício da sua utilização é largamente superior”, explica Hélder Mota Filipe.
“O que estamos a observar no caso das vacinas contra a covid-19 apenas demonstra que o sistema de farmacovigilância está a funcionar adequadamente”, sublinha Hélder Mota Filipe, professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
Para Filipe Froes, “o principal risco das vacinas é não serem administradas e exporem as pessoas a uma doença prevenível pela vacinação”. O pneumologista sublinha ainda o avanço da investigação científica durante a pandemia que, diz, abre portas a uma maior e melhor preparação dos países a futuras ameaças semelhantes. Estas conquistas podem levar ao aparecimento de “novas vacinas para algumas doenças oncológicas, degenerativas e neurológicas”, algo em que coloca grande expectativa nos próximos anos.
O esforço da comunidade europeia para garantir a aquisição em massa de vacinas contra a covid-19 deverá manter-se para garantir uma União Europeia mais resiliente e socialmente justa. A Presidência Portuguesa do Conselho da UE, cuja atividade é acompanhada em permanência pelo projeto “Mais Saúde, Mais Europa”, tem contribuído para esta missão comum. Além de dois artigos semanais, a iniciativa do Expresso com o apoio da Apifarma pretende fomentar o debate em torno das principais questões na saúde com o evento “Cancro: Cada Dia Conta”, a 26 de maio.
Conheça os principais eventos desta semana:
Terça-feira, 27
- Um dos principais objetivos da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a próxima década é a erradicação das doenças infecciosas no mundo, as hepatites virais ou o VIH. Neste último caso, Filipe Froes acredita que surgirá “uma vacina contra o vírus da imunodeficiência humana” que permita melhorar a qualidade de vida dos doentes.
- A conferência «Doenças infeciosas emergentes e respetivos desafios ambientais, clínicos e translacionais», organizada pela presidência através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, vai procurar perceber quais os aspetos que se tornaram mais prementes durante a pandemia e que têm efeito nestas maleitas.
- O evento, que decorre entre as 09h e as 17h30, contará com a presença de peritos internacionais na área da biologia molecular, imunologia, desenvolvimento de vacinas e doenças infecciosas para debater desafios e oportunidades para a investigação científica nesta área. “Esta pandemia demonstrou que uma estratégia envolvendo as diversas partes interessadas, com a colaboração da indústria farmacêutica, das universidades e institutos de investigação, das autoridades regulamentares e o financiamento adequado, pode acelerar muito o aparecimento de respostas terapêuticas muito importantes”, diz Hélder Mota Filipe.
- Já sobre o objetivo definido pela OMS para 2030, Filipe Froes diz ser “impossível erradicar as doenças infecciosas”, uma vez que a maioria da biomassa da Terra é constituída por bactérias e outros microrganismos. Em alternativa, “as vacinas, o uso adequado de antibióticos e o desenvolvimento de novos meios de diagnóstico e de terapêutica” são as ferramentas que devemos usar para controlar estas doenças, defende o especialista.
- A participação na conferência é gratuita e livre, mediante inscrição prévia através deste link.
Quinta-feira, 29
- Nos dias 29 e 30, o Infarmed e o Ministério da Saúde organizam um evento dedicado ao tema do «Acesso a medicamentos e dispositivos médicos», cuja discussão estará centrada nas questões da disponibilidade, acessibilidade e sustentabilidade na saúde.
- Diminuir as desigualdades entre Estados-membros no tempo de espera de um doente para ter acesso a um tratamento ou medicamento inovador é um dos grandes objetivos da Presidência Portuguesa, que está a liderar as negociações com o Parlamento Europeu para a aprovação da legislação sobre Avaliação de Tecnologias de Saúde.
- Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed e o líder do grupo de trabalho, diz que esta lei, se aprovada, vai “acelerar e robustecer a avaliação de novos medicamentos [na Europa] em benefício dos sistemas de saúde e dos cidadãos”. Para assistir à conferência, basta inscrever-se antecipadamente no site oficial.