Para que o país possa desenvolver o seu potencial inovador na área da saúde, será necessário apostar na criação de parcerias estratégicas, melhoria de condições de atratividade para investimento estrangeiro e, sobretudo, garantir mais financiamento nacional. “Quando olhamos para empresas farmacêuticas, estas querem estar ligadas a locais que possam fazer uma investigação para o desenvolvimento de medicamentos e que rapidamente seja aplicada”, diz ao Expresso o investigador João Gonçalves, referindo-se à importância dos laboratórios colaborativos nas universidades portuguesas. Para o profissional do Instituto de Investigação do Medicamento (iMED), este pode ser um mecanismo adequado para que as instituições de ensino superior aumentem as receitas, os projetos de investigação e para as empresas conseguirem testar novos produtos.
Apesar de já existirem vários exemplos de colaboração entre academia e indústria, esta continua a ser uma alternativa pouco explorada, consideram os peritos. A cooperação “é um ponto crítico para potenciar a afirmação de Portugal em áreas de especialização e atrair players internacionais”, diz ao Expresso Heitor Costa. O diretor executivo da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica – Apifarma considera que, entre outras medidas, seria importante os responsáveis políticos apostarem na realização de ensaios clínicos. “O país tem a base: cientistas e investigadores altamente qualificados e um ecossistema nacional de investigação pujante e reconhecido internacionalmente”, defende. O pediatra Ricardo Fernandes tem vindo a trabalhar no sentido de desenvolver esta componente no território nacional através do projeto Stay4Kids, “uma rede de ensaios clínicos pediátricos” financiada pela Comissão Europeia e por parceiros na indústria. O objetivo, diz, é facilitar e multiplicar o número de ensaios “para, a longo prazo, termos melhores medicamentos pediátricos”.
“A nível nacional, são bem conhecidas as lacunas em investigação clínica e ensaios, que permanece frágil e com limitações nas estruturas de suporte, recursos e tempo dedicado”, sublinha Ricardo Fernandes, pediatra do Hospital de Santa Maria
Para o especialista do Hospital de Santa Maria, este será um “investimento com retorno” não só a curto-prazo, mas também a longo-prazo com vantagens para os doentes e para a capacidade inovadora do país. A falta de apoio ao investimento e a ainda reduzida valorização estratégica dos ensaios clínicos tornam “Portugal pouco atrativo para investimento em I&D em novos produtos de saúde, como medicamentos inovadores”, refere Heitor Costa. Será, por isso, necessário encontrar soluções que permitam inverter o cenário e colocar o sistema de investigação português no mapa internacional.
Este é, de resto, uma das missões da Presidência Portuguesa do Conselho da UE – aumentar o financiamento, público e privado, em I&D e inovação para tornar o velho continente mais resiliente, socialmente justo, sustentável e digital. O projeto "Mais Saúde, Mais Europa" continua a acompanhar, em permanência, a atividade da presidência na área da saúde com dois artigos semanais, um à segunda-feira e outro à sexta-feira. Adicionalmente, a iniciativa do Expresso com o apoio da Apifarma promove o debate com o evento "Cancro: Cada Dia Conta", a 26 de maio.
€43,8 milhões
foi o valor de mercado de ensaios clínicos em Portugal, em 2017, representando um impacto económico total acima de €87 milhões
Conheça os destaques da semana:
Novo plano estratégico
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Alterar a forma como o país pensa a investigação científica é essencial para criar um ecossistema de inovação na área da saúde. Para isso, diz Heitor Costa, será preciso “desenhar sistemas de apoio com maturidades mais longas adaptadas à realidade da inovação farmacêutica”, assim como introduzir mecanismos de incentivo à “descoberta de moléculas e a provas de conceito”.
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“Se compararmos o investimento entre blocos estratégicos, parece-me claro que a União Europeia pode e deve aumentar o seu contributo” à produção de conhecimento na saúde, defende Ricardo Fernandes. Mais coordenação, coerência e novos ensaios clínicos devem ser prioridades, diz.
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Programas comunitários como a Iniciativa sobre Medicamentos Inovadores 2 ou a Parceria Europeia para a Inovação são apontados pelos especialistas como exemplos do esforço que os Estados-membros precisam de aprofundar para dinamizar a indústria e tornar a Europa mais competitiva.